Blog do MAG https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br Thu, 30 May 2019 23:56:15 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Passei o domingo na onda ‘é proibido proibir’ do Baixo Augusta https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/02/05/passei-o-domingo-na-onda-e-proibido-proibir-do-baixo-augusta/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/02/05/passei-o-domingo-na-onda-e-proibido-proibir-do-baixo-augusta/#respond Mon, 05 Feb 2018 23:08:45 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/c47b5b6ff87ddbd381c8f21d035c5c6c4ac285ea514247d0e2000c2bd27fa622_5a7773eac9bb7-150x150.jpg http://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=311  

Domingo (4/2) tomei coragem e fui ao desfile do Acadêmicos do Baixo Augusta. Coragem, digo, não pelo bloco, que sempre achei muito simpático, mas pela ideia de voltar a um desfile depois de tantos carnavais bem vividos e outros (nos últimos anos) de bendita abstinência.

A concentração estava marcada para as 14h na Consolação perto da esquina com a Paulista. Soube na véspera que havia  (não sei como não tinha pensado nisso antes) um esquema de pulseirinha, que permite à pessoa contemplada subir num dos carros de som ou ficar no asfalto do lado de dentro do cercadinho de corda que  garante a evolução do cortejo motorizado. Graças à generosidade de uma amiga  consegui descolar a minha na manhã do domingo.

E lá fui, de metrô, enfrentar a parada. O metrô, aliás, é um dos artífices dessa nova cena do carnaval de rua paulistano –embora algumas linhas e estações, naturalmente, superlotem e se tornem  inviáveis.

O esquema de ir tipo VIP num dos quatro caminhões do bloco teria em tese duas vantagens: chope liberado, oferecido por um patrocinador, e banheiro a bordo. Bem, um chopinho de graça não dói –embora não seja minha bebida predileta. Mas vai bem com carnaval, domingo, chuva e suor.

Já o banheiro, aí sim. Um privilégio, praticamente um auxílio-moradia para o candidato a folião. Só que quando o caminhão lotou e a nave partiu, a fila foi se avolumando e as condições sanitárias declinando ao ponto de melhor esquecer.

Decidi então descer da carruagem e ir para o asfalto.

O desfile foi divertido e impressionante. A massa na região, segundo anunciou-se, chegou a 1 milhão de pessoas. Nunca tinha visto tanta gente junta nas ruas de São Paulo. E o clima, até onde pude acompanhar –do alto ou no asfalto, fora do cercadinho– era alegre, sem corre-corre e sem sustos no quesito violência.

O Acadêmicos do Baixo Augusta é um bloco que tem uma onda “progressista”, como sempre insiste o diretor da companhia, Alê Youssef –que já entrevistei aqui no Blog. Foi criado por gente do meio cultural, solta em comportamento, com inclinações de esquerda transante.

O tema do desfile, como se sabe, era “É Proibido Proibir”, em alusão ao cinquentenário do Maio de 68, da canção de Caetano Veloso e de outros acontecimentos marcantes daquele ano sem fim. O pessoal do Satyros, que foi num carro próprio, fez performance com moças de seios de fora; artistas cantaram; alguns e algumas foram para o asfalto; e muitas garotas usaram um carimbinho na pele lembrando aos marmanjos sem noção que “não é não!”.

Vejo alguns amigos de redes sociais zoando o Baixo Augusta e sua linha (err…) “ativista”. Tudo bem. É sempre bom ter gente para divergir, ironizar e quebrar consensos. Mas o desfile foi bom, sem chateação. Tocou de Raul e Rita a axé e samba-enredo.

Cheguei a São Paulo, vindo do Rio, em fevereiro de 1984, pouco antes do Carnaval. O desfile das escolas, que me pareciam muito chinfrins perto das cariocas (e eram mesmo, ainda mais do que hoje), acontecia na Avenida Tiradentes. Blocos, se havia, eram raros. Um ou outro baile pré-carnavalesco. As ruas ficavam praticamente desertas. Mal se ouvia um batuque ali na esquina.A galera ia para a Bahia ou para o Rio.

Entendo que o carnaval de rua possa ser um problema. Muita gente reclama do barulho, da bagunça, da sujeira etc. Quem mora perto tem bons motivos para bode. No Rio, as queixas são comuns também. Assiste-se a uma proliferação incontrolável de blocos, bloquinhos e blocões. Por isso, há quem queira repetir o confinamento das escolas aos Sambódromos, criando uma espécie de blocódromo.

Vai na mesma linha de promover a Virada Cultural em algum Viródromo, como queria o prefeito João Dória, que pretendia concentrar as atrações no autódromo de Interlagos (o alcaide tem uma fixação em pistas para automóveis ou é só impressão?).  Mas a  ideia dos blocos e da Virada, pergunto, não seria justamente promover uma apropriação lúdica e massiva da cidade?

O Baixo Augusta, criado em 2009, sempre teve essa linha e sempre foi amigo da diversidade. Em 1984, aliás,não existiam o nome e o bairro. A Augusta, ali para o lado da cidade, tinha se transformado, com o perdão da palavra, num puteiro (com neóns cool, ok). Hoje, Baixo Augusta é uma marca da boemia, da diversão, do turismo –e cada vez mais também da gentrificação– de um pedaço significativo da cidade.

É notável o processo associativo que se instalou em São Paulo (e também em outras cidades) nos últimos dez ou 15 anos com o objetivo de recobrar a escala humana e dar ao espaço urbano outras formas de uso que não a circulação de gente trancada em carros ou espremida em ônibus.

Há problemas? Sim, sem dúvida. Mas prefiro ver a Consolação tomada pela massa num domingo de pré-Carnaval do que as vias desertas do velho túmulo do samba.

FOTO NO ALTO: SAO PAULO, SP, BRASIL, 04-02-2018: Integrantes do grupo de teatro Satyros, durante performance no bloco Acadêmicos do Baixo Augusta, na rua da Consolação, em São Paulo. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, COTIDIANO)

]]> 0 Baixo Augusta lança Carnaval político que revive 1968 e terá homenagem a Judith Butler https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/01/11/baixo-augusta-lanca-carnaval-politico-que-revive-1968-e-tera-homenagem-a-judith-butler/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/01/11/baixo-augusta-lanca-carnaval-politico-que-revive-1968-e-tera-homenagem-a-judith-butler/#respond Thu, 11 Jan 2018 02:43:29 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=218 Com o lançamento de um festival de shows, festas e outras atividades, o bloco Acadêmicos do Baixo Augusta dá a largada, nesta quinta (11/1), para o Carnaval deste ano, que promete unir alegria e política e se transformar numa grande manifestação de rua, no dia 4 de fevereiro.

“Será uma manifestação política com alegria, com desbunde e com transgressão, que é a melhor maneira que a gente encontra de responder a esse discurso de ódio que alguns setores da sociedade tentam instalar”, diz o produtor cultural  Alê Youssef, diretor da associação.

Sob o lema “É Proibido Proibir”, o bloco, com sua tradicional pegada progressista e ativista, vai ter quatro trios elétricos, performances, artistas famosos e até uma encenação da companhia de teatro Os Satyros baseada na obra da filósofa americana Judith Butler –que foi alvo de ataques de grupos ultraconservadores quando esteve recentemente no Brasil (por supostamente querer implantar uma imaginária “ideologia de gênero” nas escolas).

Em conversa com o blog, Youssef falou do desfile deste ano e também do sentido da festa, que a seu ver é a melhor representação da identidade brasileira.

Blog – Neste ano o Carnaval vem mais politizado?

Youssef – Este ano a relação do Carnaval com a política vai ser muito marcante. Nós acreditamos que o Carnaval, mais do que qualquer outra instituição, dá um senso de continuidade para o país. Entre o Carnaval passado e o que se avizinha nós presenciamos absurdos que contrariam a própria identidade do Brasil que o Carnaval representa.

O Baixo Augusta vai tocar nesses assuntos de maneira bastante contundente e vai mostrar através de seu desfile como que o obscurantismo e o proibicionismo de certos grupos da sociedade são discursos de ocasião.

A gente pretende escancarar a nossa opinião e a nossa contrariedade em relação ao que vimos acontecer ao longo do ano no campo do proibicionismo, lembrando que um dos aspectos que mais nos marcou foi a proibição, em 2017, da ocupação da praça Roosevelt pelo festival “Satyrianas”, que tem mais de 20 anos e  é um marco zero da ideia do Baixo Augusta, da ideia do nosso bairro.

Todos esses elementos farão do nosso Carnaval uma grande manifestação política, mas uma manifestação política com alegria, com desbunde, com transgressão, que é a melhor maneira que a gente encontra de responder a esse discurso de ódio que alguns setores da sociedade tentam instalar.

Blog – “É Probido Proibir” faz referência aos 50 anos de Maio de 68 e também à apresentação da música de Caetano Veloso, acompanhado pelos Mutantes, que ficou famosa por um discurso em reação às vaias da plateia…

Youssef – Além dessas duas referências, importantíssimas, o tema também lembra outros episódios, como os 50 anos da batalha da Maria Antônia e da censura à canção “Para Não dizer que Não Falei de Flores”. O tema reúne uma série de simbolismos que vão se encontrar e serão ressaltados no desfile.

Blog – Como vai ser o desfile?

Youssef – Nós vamos concentrar na Consolação com a Paulista a partir das 14h e sair em torno das 16h. Vão ser quatro trios elétricos. Teremos um ato de abertura, com a leitura de um manifesto e algumas surpresas. Teremos também uma performance da atriz Alesandra Negrini relacionada à ideia de censura versus liberdade.

Vamos fazer um ato na rua Maria Antônia, no qual lembraremos todas essas referências históricas  mencionadas. Além disso, vamos inaugurar um grande painel na empena inteira do prédio onde se situa a Casa do Baixo Augusta, com o tema do ano. Para pintar esse mural, vamos ter o reencontro do Ciro Cozzolino, do Carlos Delfino e do Zé Carratu, do grupo Tupinãodá, criado em 1983 [uma lenda oitentista do grafite na cidade].

Blog – O Carnaval de rua de São Paulo tem um perfil mais ativista?

Youssef – O Carnaval de São Paulo é na sua essência ativista, um Carnaval que se moldou na dificuldade de colocar o bloco na rua. Várias gestões foram proibicionistas nesse sentido e a partir disso a gente entendeu que era necessário adotar um tom de ativismo, no sentido de ocupar e disputar a cidade. Isso marcou o Carnaval de rua de São Paulo e especialmente o Baixo Augusta.

Nós sempre tivemos temas e sempre fomos um bloco que colocou suas opiniões muito fortemente nos desfiles. Foi assim contra o Estatuto da Família; no “Flower Power”, depois das manifestações de 2013; no “Ocupa Augusta”, com a caveira guerrilheira; e no “A Cidade é Nossa”, no início do governo Doria, para mostrar que as conquistas civilizatórias de ocupação da cidade tinham que ser mantidas. E vai ser assim no “É Proibido Proibir” para confrontar o proibicionismo e o conservadorismo.

 

 

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