Blog do MAG https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br Thu, 30 May 2019 23:56:15 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Os 80 tiros e a volta dos porões https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2019/04/09/os-80-tiros-e-a-volta-dos-poroes/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2019/04/09/os-80-tiros-e-a-volta-dos-poroes/#respond Tue, 09 Apr 2019 13:48:03 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2019/04/15547218825cab2c5aab4c7_1554721882_3x2_md-320x213.jpg https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=1189 O homicídio do músico Evaldo Rosa dos Santos, no domingo, no Rio de Janeiro, não comporta tergiversações: trata-se de ação brutal perpetrada por militares do Exército Brasileiro que fere a Constituição e as normas mais elementares do Estado de Direito.

Impressiona a desenvoltura demonstrada pelo grupo fardado, que depois de descarregar 80 disparos –80!– num automóvel ocupado por pessoas pacíficas teria debochado da mulher da vítima, acompanhada do filho de 7 anos, do pai, também atingido, e de uma amiga.

O episódio é também alarmante porque escalões superiores tentaram  iludir a opinião pública com uma nota mentirosa, na qual se apresentava uma história da Carochinha sobre o ocorrido.

Não é um caso isolado a envolver o Exército, que já vinha sendo indevidamente acionado nos últimos anos para desempenhar papel de polícia num contexto de guerra aberta contra quadrilhas de traficantes do varejo das drogas.

A famigerada intervenção decretada por Michel Temer, no Rio, com o intuito, entre outros, de desviar a atenção de suas atividades criminosas (pelas quais finalmente deverá pagar), parece ter sido um marco nesse processo. Com a proteção de uma legislação que entrega à Justiça Militar o julgamento de militares acusados de matar civis, o arbítrio começou a pressionar as barragens.

Há relatos –de autoridades sérias que trabalham na defesa de direitos– de atos cometidos por militares que fazem lembrar os piores momentos de extremistas da caserna.

Muitos brasileiros orgulham-se de ter alçado ao Planalto um candidato identificado com os porões da ditadura. Bolsonaro nunca escondeu quem são seus heróis. É um apologista das armas e da tortura. E isso não é bravata.

O fato de que o “mau militar”, assim citado por Geisel, venha sendo monitorado no governo por um grupo de generais menos insensatos por caminhos tortos ecoa o jogo de atritos e cumplicidades entre as linhas militares de décadas atrás –os moderados, os “bolsões radicais porém sinceros”, os torturadores etc.

O crime contra Evaldo encena a volta dos porões nessa espécie de pós-democracia, à luz do dia, sem receio de punição, sem temor de transgredir regras legais e normas básicas de convívio civilizado. Se já não bastassem os desvios cometidos pelas franjas corruptas e incontroláveis das polícias, vemos uma instituição com a tradição e o prestígio do Exército ser exposta por incursões como essas, que semeiam a selvageria.

Sinal dos tempos, o espetáculo da estupidez merece o aplauso de uma horda de obcecados com a caça aos comunistas e com ataques contra homossexuais, pretos ou feministas. Gente que quer matar “bandido”.  E temos assistido a um perigoso recrudescimento da violência por parte do Estado, pessoas e grupos paralelos.

O que está em curso deveria nos preocupar. Enquanto setores da elite não desviam os olhos da agenda liberal, as bases da convivência social vão sendo corroídas pela escalada de uma direita das cavernas, de caninos aguçados, tacape e tablets nas mãos.

Nada garante que os erros serão reaproveitados numa imaginária “curva de aprendizado” e que as tentativas menos exitosas servirão para indicar os trajetos certos. Há sempre indivíduos, grupos e nações que simplesmente fracassam.

NA FOTO AO ALTO – O músico Evaldo Rosa dos Santos, morto por militares

]]>
0
Sem PT no poder, direita briga e ameaça instituições https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2019/03/21/sem-pt-no-poder-direita-briga-e-ameaca-instituicoes/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2019/03/21/sem-pt-no-poder-direita-briga-e-ameaca-instituicoes/#respond Thu, 21 Mar 2019 20:12:19 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/MORO-FOTO-320x213.jpg https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=1171 Na ausência do PT no Planalto para ser malhado e unificar o campo conservador, a direita, em suas diversas matizes, briga entre si. O tiroteio compromete as instituições e o andamento da pauta no Legislativo.

No campo governista, os enfrentamentos são múltiplos. Populistas circenses da seita olavista brigam com os generais. O núcleo familiar se estranha com várias frentes. O PSL é uma desarmonia só.

No campo institucional, o STF, o ministro Moro, a Lava Jato e o presidente da Câmara duelam à luz do sol, pondo em risco o que resta de estabilidade do país.

A prisão intempestiva do ex-presidente Temer e de seu ex-ministro Moreira Franco (do qual a mulher de Maia é enteada) se inscreve nesse contexto perigoso de litígios. Como já havia alertado o colunista Vinicius Torres Freire, o poder está em guerras.

A ideia de que o impeachment de Dilma Rousseff levaria o país a um ciclo liberal virtuoso de estabilidade e desenvolvimento vai se confirmando como quimera. O ambiente se deteriora. Nuvens cinzas se acumulam no horizonte. Oremos.

]]>
0
Capacidade de transmissão de votos de Lula para Haddad é a maior incógnita https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/08/22/capacidade-de-transmissao-de-votos-de-lula-para-haddad-e-a-maior-incognita/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/08/22/capacidade-de-transmissao-de-votos-de-lula-para-haddad-e-a-maior-incognita/#respond Wed, 22 Aug 2018 06:01:47 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/download-1.jpg https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=926 As pesquisas Ibope e Datafolha, que fecham o ciclo pré-campanha na TV e no rádio, convergem ao detectar um aumento das preferências pelo candidato  Luiz Inácio Lula da Silva. No levantamento do Datafolha divulgado nesta quarta (22/8), o petista atinge impressionantes 39%. O movimento coincide com o início da transição que o PT terá de fazer do ex-presidente, condenado em segunda instância, para seu vice de mentirinha, Fernando Haddad.

A ideia da sigla, como se noticia, é martelar por ora a dobradinha “Lula e Haddad” para em breve, com a provável inabilitação do postulante preso, mudar para  “Lula é Haddad”. A resiliência do líder petista aumenta a possibilidade de exploração da ideia de que uma injustiça é cometida em prejuízo da democracia –restando a escolha do ex-prefeito de São Paulo para o Brasil “voltar a ser feliz”.

Se vai dar certo, não se sabe, mas Haddad é pouco conhecido e tem um caminho a ser desbravado.

Não há dúvida de que a chamada “era Lula” é a grande referência presente de um tempo de resultados favoráveis para a maioria da população. É certo também que o governo Temer, marcado por enorme impopularidade, acusações de corrupção e insucessos variados, acabou por requalificar o lulismo, que parecia em certo momento nocauteado.

O petismo, não se discute, enfrenta problemas. Parcela expressiva (48%) diz que não votaria em alguém indicado por Lula. Retrato do momento ou tendência a se consolidar? Essa a pergunta que não quer calar: qual será afinal a capacidade de transmissão de votos do ex-presidente para Haddad? 

No front da direita, apesar de manter-se firme como segunda opção, Jair Bolsonaro pode estar batendo em seus limites. Não cai, mas também não sobre.  E é o rei da rejeição. Enquanto isso, Geraldo Alckmin continua patinando em baixos patamares, mas faz um brilhareco em simulações de segundo turno. Não é prudente descartar uma mudança de trajetória, dado o tempo de TV e as máquinas envolvidas na candidatura do ex-governador paulista.

Essas foram as últimas pesquisas de uma série importante, mas limitada pelo fato de a fase decisiva das campanhas (a partir de setembro, com o horário de TV) não ter começado. Muita água ainda vai correr, mas o desenho de uma final clássica entre “azuis e vermelhos” parece provável. Na pele de quem? Haddad x Alckmin seria uma boa aposta, mas ainda não mais do que isso. 

Sim, um tertius pode surgir –Marina tingiria de verde a disputa? Quem sabe. É bom lembrar que não estamos diante de uma eleição “normal” como outras. É larga ainda a magem para o imponderável.  

 

 

]]>
0
Semiparlamentarismo explode com pautas-bomba e Ponte para o Futuro vira túnel para o passado https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/07/12/semiparlamentarismo-explode-com-pautas-bomba-e-ponte-para-o-futuro-vira-tunel-para-o-passado/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/07/12/semiparlamentarismo-explode-com-pautas-bomba-e-ponte-para-o-futuro-vira-tunel-para-o-passado/#respond Thu, 12 Jul 2018 21:22:02 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/15314136765b4784ac831a2_1531413676_3x2_lg-320x213.jpg http://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=825 Visto por alguns como um arranjo engenhoso para os impasses políticos do país, o arremedo de semiparlamentarismo que teria se instalado após o afastamento da presidente Dilma Rousseff possuiria o vantajoso condão de controlar excessos do Executivo e ao mesmo tempo incorporar a agenda reformista que impulsionou Michel Temer em sua aventura conspiratória.

Nos termos do acordão que presidiu a virada de mesa iniciada em dezembro de 2015, o Congresso ganharia margem para tentar estancar a sangria da Lava Jato e aceitaria, em contrapartida, promover a pauta liberal do documento Ponte para o Futuro –empreendimento que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso apoiou, mas chamou, sem perder sua peculiar sagacidade, de “pinguela”.

A aprovação inicial de meia dúzia de reformas serviu para animar os entusiastas da empreitada, que passaram a minimizar os conhecidos traços do DNA de nossa maioria parlamentar, entre os quais o fisiologismo desenfreado, o oportunismo, a miséria moral, a demagogia e a inclinação populista de direita. Mesmo diante de manifestações deploráveis, como os aumentos em cascata concedidos por Temer logo no começo de sua gestão, acreditou-se que o “ soi-disant” semiparlamentarismo seria uma fórmula virtuosa.

Pois bem: não demorou muito para que o escorpião, como na parábola, acabasse por picar o sapo. Ao comprar da malta congressista sua permanência no cargo, Temer tornou-se um fantoche nas mãos do centrão e das bancadas empenhadas em lobbies diversos, no mais das vezes regressivos.

A possibilidade de que o populismo de direita triunfasse, sempre alta, materializou-se. O sistema improvisado, que serviria para ajudar o país a conter gastos, equilibrar contas e caminhar na direção de uma economia e de uma administração pública mais modernas e racionais, passou a fazer o contrário.

Sob os eflúvios do período eleitoral, com um presidente entregue às baratas, o semiparlamentarismo não aprovou a propalada reforma da Previdência, ampliou despesas e transformou-se no reinado do atraso e da irresponsabilidade.

Após uma sequência de concessões, que envolveu perdão de dívidas e benesses variadas para grupos de interesse, chegou-se ao fim da linha com a greve dos caminhoneiros. Fruto, entre outros motivos, da fragilidade do presidente e do devaneio mercadista imprudente da nova política de preços da Petrobras, a paralisação resultou em desfalque para a atividade econômica, os cofres públicos e o bolso do contribuinte.

Não bastassem os prejuízos, concedeu-se anistia aos grevistas mancomunados com empresas do setor e aprovou-se um inacreditável tabelamento do frete, em meio a pautas-bomba (sim, elas voltaram) que podem empurrar para 2019 despesas de cerca R$ 90 bilhões, segundo estimativa de reportagem desta Folha.

A ponte para o futuro virou túnel para o passado e o semiparlamentarismo parece ser o responsável pela engenharia.

.

FOTO AO ALTO –  Eunício Oliveira (MDB-CE), presidente do Congresso, durante debate sobre a lei orçamentária – Pedro Ladeira/Folhapress

]]>
0
Parecido com ‘dream team’ da economia, Tite faz parte do fracasso dos anos Temer https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/07/12/parecido-com-dream-team-da-economia-tite-faz-parte-do-fracasso-dos-anos-temer/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/07/12/parecido-com-dream-team-da-economia-tite-faz-parte-do-fracasso-dos-anos-temer/#respond Thu, 12 Jul 2018 12:12:28 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/15309050945b3fc20633208_1530905094_3x2_lg-320x213.jpg http://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=827 FOTO – Tite antes da derrota para a Bélgica – John Sibley/Reuters 

 

Incensado por amplos setores da mídia e conceituado como treinador moderno e eficiente, Tite mostrou-se nesta Copa em sintonia simbólica com a era Temer.

Fez lembrar o então chamado “dream team” da área econômica, que assumiu sob fogos de artifício com promessas de mudar o jogo e erguer a taça (ou melhor, o PIB): científico, cheio de razão, comprovadamente competente, com carreira triunfante na iniciativa privada… Só que depois de algumas vitórias aparentemente promissoras, não conseguiu fazer a reforma da Previdência e aumentou o gasto público…  Decepcionou a torcida de camisa amarela e voltou para casa antes da final, com um pibinho debaixo do braço.

A imagem de Tite, com todo seu incontestável currículo, seu jeito professoral de pastor e sua marra marqueteira, ficará um pouco como parte desse clima empolado e fracassado do “golpeachment”.

]]>
0
É hora da autocrítica do golpeachment https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/06/12/e-hora-da-autocritica-do-golpeachment/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/06/12/e-hora-da-autocritica-do-golpeachment/#respond Tue, 12 Jun 2018 14:25:52 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/15268230-320x213.jpg http://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=695 O presidente Michel Temer atingiu o mais baixo nível de aprovação já registrado pelo Datafolha para ocupantes do cargo, suplantando seus próprios recordes negativos. Apenas 3% dizem que o governo é ótimo ou bom, o que é um vapor estatístico.

A economia brasileira vai caminhando, segundo analistas, para mais um ano de estagnação. O desemprego permanece em patamares elevadíssimos. O ajuste fiscal não foi feito. A propalada reforma da Previdência não saiu do papel. Tabelamentos de preços e outras relíquias populistas e intervencionistas voltaram à cena.

Temer foi alvo de duas denúncias da Procuradoria Geral da República por corrupção passiva e continua sendo investigado pela Polícia Federal, que já levantou sinais de desvios até em seus círculos domésticos. Alguns dos grandes amigos do presidente estão presos ou são atingidos por inquéritos e evidências de crimes.

Talvez imaginando-se com sete mil vidas, o ex-vice vangloriou-se em entrevista à TV por supostamente ter surpreendido o tabuleiro com uma  “jogada de mestre” ao decretar a intervenção federal militarizada na segurança do Rio –até aqui um tiro n’água.

Quando dos embates em torno do afastamento da presidente Dilma Roussef, diziam os apoiadores da movimentação que a retirada de cena da petista reeleita, com seu governo desastroso, daria lugar a um ministério “dream team” e a um subsequente choque positivo de credibilidade. As expectativas favoráveis entrariam em cena e a economia começaria a deslanchar.

Acabaria, aleluia, a gastança. Com a votação da  Previdência e uma rodada ambiciosa de concessões de infraestrutura para a iniciativa privada as contas públicas seriam salvas. Investidores começariam a disputar o Brasil a tapa.  O PIB cresceria 4% em 2018 e um candidato identificado com as reformas estaria a essa altura muito bem posicionado nas intenções de voto. O gigantão descortinaria, enfim, o portal de uma nova era liberal maravilha. Com o amparo tranquilizador das instituições, o Supremo e tudo.

É forçoso admitir que alguma coisa não deu certo.

Pergunto aos respeitáveis economistas e pensadores liberais, intelectuais e homens públicos de variadas matizes que viram na conspiração e num fantasmagórico governo Temer uma perspectiva promissora a ser apoiada: não está na hora de uma autocrítica do impeachment? Ou diria melhor, do golpeachment?

 

FOTO – Imagem da pintura “Mancha no Planalto” (2013), de Ciro Cozzolino. Ernesto Rodrigues/Folhapress/Acervo Paper Box Lab Institute

]]>
0
Executivo de empresa relata agromilícias armadas intimidando caminhoneiros https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/05/28/executivo-de-empresa-relata-agromilicias-armadas-intimidando-caminhoneiros/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/05/28/executivo-de-empresa-relata-agromilicias-armadas-intimidando-caminhoneiros/#respond Mon, 28 May 2018 21:52:36 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/download.jpg http://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=670 Executivo de uma grande empresa de comercialização de commodities disse ao blog que milícias armadas que nada têm a ver com caminhoneiros ou transportadoras estão atuando pelo menos em Minas, Paraná e Goiás. Intimidam caminhoneiros e pedem intervenção militar.

Motoristas estão se recusando a sair até com escolta.  Jogo bruto. Funcionários da empresa foram a um piquete e constataram que só havia gente de ruralistas e comerciantes no bloqueio. Ninguém ligado a caminhoneiros ou transportadoras. Os grupos parecem vinculados a setores ultradireitistas do meio rural.

O relato coincide com as declarações do presidente da Associação Brasileira dos Caminhonheiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, que afirmou  que caminhoneiros querem voltar ao trabalho, mas estão sendo impedidos por “intervencionistas”.

 

FOTO – Caminhões na BR 262 em Minas – Douglas Magno / O Tempo

]]>
0
Mercadismo pueril e naufrágio do temerismo alimentaram crise https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/05/28/mercadismo-pueril-e-naufragio-do-temerismo-alimentaram-crise/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/05/28/mercadismo-pueril-e-naufragio-do-temerismo-alimentaram-crise/#respond Mon, 28 May 2018 12:38:32 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/565151-970x600-1-320x213.jpg http://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=652  

Os lances de liberalismo escolar que se abateram sobre o país na sequência da deposição de Dilma Rousseff têm produzido algumas bobagens notáveis. Uma delas é a política adotada pela elogiada gestão de Pedro Parente para corrigir diariamente os preços de derivados de petróleo nas refinarias –prática que já foi para o brejo da pior maneira possível.

A ideia simplória de que a Petrobras é comparável a uma padaria que não pode segurar o preço do pão artificialmente senão quebra é uma pataquada que vem sendo usada por alguns economistas para justificar um mercadismo tão valentão quanto pueril, que pode ter consequências graves para o país.

A Petrobras não é uma padaria, é uma enorme empresa pública, controlada pela União, com posições monopolistas, cuja riqueza é, em última instância, um bem da nação –num país em que o transporte de carga rodoviário triunfou e adquiriu peso estratégico excessivo. A presunção de que os sócios minoritários têm que ganhar sempre, em todas as circunstâncias e a cada minuto é uma falácia.

Como observou Eduardo Giannetti da Fonseca, em entrevista à Folha, a política que foi adotada por Parente é  “uma maluquice”. Da mão pesada e intervencionista de Dilma Rousseff migramos para uma visão fundamentalista de mercado que taquigrafa e transmite diariamente para os consumidores a volatilidade da cotação internacional de uma commodity da importância vital do petróleo.

Abriu-se o flanco, com essa decisão, para a imprevisibilidade e para o nervosismo característico das turbulências transitórias num país em que os mercados, não raro e por diversos motivos, são mais inclinados à instabilidade e à rapinagem. No caso, ficou complicado fechar frete com tanto vai e vem.

Há maneiras sensatas de criar um colchão de estabilidade e previsibilidade. Isso pode ser feito até  mesmo no campo tributário, com a adoção de impostos sobre combustíveis que possam cair quando a cotação dispara e possam subir quando ela cai –de modo a não transferir de imediato variações bruscas para a sociedade.

O fato é que a demonstração juvenil de macheza mercadista na petroleira, aplaudida pela claque ideológica, revelou-se insustentável. Além da irresponsabilidade de caminhoneiros e de empresas de transporte, a aliança desse liberalismo infantiloide com a jequice política incompetente e impopular do temerismo tem grande parte da responsabilidade por essa crise, que fez a população de refém e deixou o governo de joelhos, sem alternativa senão recuar de maneira atabalhoada e vexatória.

POST SCRIPTUM

Depois de publicar o post cima, às 9h38, me ocorreu que seria bom esclarecer que não sou a favor de tabelamento do frete ou de qualquer outra coisa. Esperemos que a ideia de tabelar isso e aquilo não prospere. Defendo uma gestão que observe as regras de mercado mas tenha um mínimo de inteligência, responsabilidade e pragmatismo. Não dá, por principismo boboca, deixar que  a mão invisível passe toda hora em nosso traseiro.

FOTO – Caminhoneiros protestam na rodovia dos Bandeirantes, em São Paulo –  Marcos Bezerra / Futurapress / Folhapress

]]>
0
Temer, o rejeitado, caiu na real; mas Meirelles, o iludido, ainda não https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/05/22/temer-o-rejeitado-caiu-na-real-mas-meirelles-o-iludido-ainda-nao/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/05/22/temer-o-rejeitado-caiu-na-real-mas-meirelles-o-iludido-ainda-nao/#respond Tue, 22 May 2018 19:23:07 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/2e583dd6b91d37fb3285a5bc5764e1b28fec546b552d879942727bbed52c7e69_5b04639d93a33-320x213.jpg http://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=638  

Depois do devaneio de lançar-se à reeleição, quando apareceu em programas populares de TV, garantiu que defenderia seu legado e acreditou ter descortinado uma “jogada de mestre” ao decretar a intervenção no Rio, eis que Michel Temer caiu na real. Após novas pesquisas, que só confirmaram seus recordes de impopularidade, e na sequência de pressões de seu círculo próximo para que largasse o osso, Temer, o rejeitado, abdicou em favor de Meirelles, o iludido.

O ex-ministro da Fazenda, que também poderia ter como epíteto “o vaidoso”,  parece nutrir ambições presidenciais que, não fosse o senador José Serra (PSDB), poderiam ser consideradas sem paralelo. Meirelles tem a vantagem de possuir recursos para invetir em campanha e pertencer a uma legenda grande, com tempo de TV. Mas não tem nenhum enraizamento político. É mais para outsider do que outra coisa. E o que seria seu carro-chefe,  a sonhada  recuperação vigorosa da economia pós-Dilma, deu  lá uma andada, mas furou o pneu. Claro que o candidato contará com simpatias do mercado, mas isso não basta para ganhar eleição. Ademais, se o cálculo conspiratório do advento do espetáculo do PIB tivesse acontecido, seria, afinal, Temer, não Meirelles, o nome do MDB.

Apesar dos apelos do presidente, dificilmente o partido vai se unir em torno da candidatura. Nomes como Renan Calheiros, Roberto Requião e Eunício de Oliveira tendem a sair de lado. Quanto às possibilidades de futuro entendimento com Geraldo Alckmin, ainda é cedo para saber. O tucano tem muito mais estrada e mais perspectivas como candidato do que o ex-ministro.

A possibilidade, aliás, de que se repita em 2018 o padrão de uma candidatura de centro-direita contra outra de centro-esquerda não parece mais tão improvável quanto já pareceu. Alckmin, apesar de ainda estar em patamares baixos nas pesquisas, tem boas chances de ser o nome da centro-direita. Quanto à  centro-esquerda, Ciro Gomes, por ora, parece ter mais cancha para prosperar. Resta esperar a turma do PT receber alta do hospício para ver o que vai acontecer. Mas não é de descartar um racha, que leve alguns petistas mais equilibrados a apoiar a candidatura do PDT. A ver.

 

FOTO – Meirelles e Temer em Brasília, 22.05.2018. REUTERS/Adriano Machado

]]>
0
Saída de Batman ajuda, mas Temer e economia atrapalham liga da direita https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/05/08/saida-de-batman-ajuda-mas-temer-e-economia-atrapalham-liga-da-direita/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/05/08/saida-de-batman-ajuda-mas-temer-e-economia-atrapalham-liga-da-direita/#respond Tue, 08 May 2018 18:59:40 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/15241650895ad8e9e1b0517_1524165089_3x2_lg-320x213.jpg http://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=603 A desistência de Joaquim Barbosa de se apresentar como candidato às eleições presidenciais era uma possibilidade levada em conta por muitos analistas políticos, que viam com ceticismo a movimentação em torno do lançamento do ex-ministro do Supremo.  Ainda que mais recentemente estivesse em alta a ideia de que Barbosa concorreria, por causa dos bons resultados em pesquisas de intenção de voto, o recuo não chega a ser uma grande surpresa.

Sem Barbosa, animam-se as demais candidaturas, que viam no Batman um potencial canalizador de votos da centro-esquerda e da centro-direita. Mais do que todos, parece animar-se o grupo do tucano Geraldo Alckmin, candidato que vem encontrando persistentes dificuldades para decolar –embora seja cedo para prognósticos mais definitivos, num quadro em que é relevante a parcela dos eleitores indefinidos

Alckmin, em tese, seria o candidato da liga da direita que melhor se sairia na corrida eleitoral, caso o pensamento econômico desejante que apoiou a deposição de Dilma Rousseff tivesse atingido seus objetivos.

Os planos iniciais da aliança da direita liberal com a patrimonialista era colocar a economia em rápido crescimento, por obra de um milagre das expectativas e de um acordão para que a malta congressista entregasse as medidas consideradas necessárias para animar o mercado –entre as quais brilhava a mudança da Previdência.

Imaginava-se que a essa altura o espetáculo da retomada estaria em cena e atrairia a simpatia do eleitorado para as candidaturas identificadas com a agenda liberal reformista.

Não deu muito certo, convenhamos. Em que pesem algumas reformas entregues pelo governo Temer, a tão almejada (e fetichizada) reforma previdenciária não saiu do papel e a economia segue patinando, com desemprego altíssimo, déficit público explosivo e muitas incertezas. Quanto ao governo, bate recordes de impopularidade e vê-se às voltas com a polícia e a Justiça.

Nesta semana, as expectativas de um crescimento expressivo em 2018 viram-se mais uma vez aplacadas por revisões para baixo nas estimativas do PIB.

Apesar de toda a encenação técnica, assistiu-se no passado recente a uma amplificação desejante de um programa econômico que, embora defensável em vários aspectos, não poderia dar certo sem que se levassem em conta as condições políticas para sua implantação. Revolução liberal com Temer, Jucá, Angorá, Geddel e companhia nunca me pareceu uma ideia muito brilhante.

Uma vez que os economistas liberais, assim como todos os demais economistas, nunca erram, não se vê autocrítica. Em vez disso, surgem especulações nebulosas do tipo “tem alguma coisa aí que não está funcionando e não sabemos o que é” –uma tentativa obscurantista de encontrar uma jabuticaba que venha a explicar o que na realidade foi um cálculo político equivocado estufado por “wishful thinking”.

Ainda assim, e apesar de todas as suas deficiências, a candidatura de centro-direita, ou de direita, representada por Geraldo Alckmin tem lá suas chances de prosperar. Bem como uma candidatura de centro-esquerda. O PSDB e o PT, apesar do desmanche, ainda são pólos importantes na política organizada e certamente terão peso no processo eleitoral.

Mas o fiasco político e moral de Temer e a decepcionante resposta da economia às medidas que se anunciavam salvadoras e de efeito relativamente rápido são fatores que podem contribuir para aventuras indesejadas –com ou sem Batman.

 

FOTO: O ministro aposentado do STF Joaquim Barbosa em evento em Brasília – Pedro Ladeira-19.abr.18/Folhapress

 

 

 

 

 

 

]]>
0