Blog do MAG https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br Thu, 30 May 2019 23:56:15 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Economistas e ideólogos liberais devem explicações sobre fiasco do PIB https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2019/05/30/economistas-e-ideologos-liberais-devem-explicacoes-sobre-fiasco-do-pib/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2019/05/30/economistas-e-ideologos-liberais-devem-explicacoes-sobre-fiasco-do-pib/#respond Thu, 30 May 2019 21:45:21 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/Guedes-320x213.jpg https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=1237 O resultado do PIB do primeiro trimestre e a perspectiva de mais um ano de estagnação, a essa altura já contratada, cobra explicações aos economistas e ideólogos ditos liberais que apregoaram a rápida recuperação da economia brasileira após a deposição da presidente Dilma Rousseff. Estaríamos, então, no limiar de um espetáculo de reversão de expectativas, que levaria à expansão do PIB, ao encaminhamento do ajuste fiscal, com redução de despesas e iminente aprovação de uma reforma da Previdência.

Agora, alguns desses profetas do mercado falam pouco e evocam superstições: haveria alguma coisa anormal na economia brasileira, alguma aberração, um elemento invisível ou matéria escura que eles não sabem bem identificar. É como se uma circunstância metafísica misteriosa regesse a lógica econômica nesse considerável pedaço do sistema global.

Talvez os sacerdotes desse tipo escolar e fortemente ideológico de liberalismo que grassa no país devessem olhar para dois aspectos: o tipo de articulação política que promoveram (pegaram o primeiro cavalo oportunista que passou, caíram, e pegaram outro mais xucro) e a inexistência de uma estratégia pragmática de saída da estagnação. É mentira velha e surrada que empresários e investidores nos inundarão com um tsunami de investimentos tão logo aprove-se a reforma da Previdência.

Claro que se trata de medida necessária, dentro de parâmetros razoáveis, mas por si vai representar apenas um relativo alívio na avaliação do cenário futuro. Para sair do buraco em que nos metemos talvez fosse útil abandonar a ideia de que abdicar de uma política econômica ativa e não fazer nada (sim, em termos) seja a melhor solução. Lembremos que os EUA, o país do capital e da iniciativa privada, reagiram e saíram da crise de 2008 com massiva atuação governamental, por meio da injeção de recursos de proporções bíblicas. Passada a tormenta, retiraram os estímulos e a vida segue –aliás já muito bem desde o final do mandato de Obama.

O ponto aqui é o seguinte: não se vai sair de uma crise dessa dimensão apenas com terapias indicadas para o longo prazo. Façamos uma comparação, digamos, psiquiátrica.  Ainda que alguém acredite que a psicanálise seja a melhor opção terapêutica  para a busca do autoconhecimento e do equilíbrio emocional, não parece rcomendável levar diretamente ao divâ, na expectativa de cura, um psicopata em surto ou um alcoólatra em crise, na sarjeta. Melhor que essas pessoas passem antes por uma terapia de recuperação para que possam ficar em pé, caminhar e, enfim, estarem capacitadas minimamente a seguir prescrição mais duradoura.

No nosso debate econômico, entretanto (insisto, altamente ideologizado), não se admitem terapias de transição. É proibido, por exemplo, elevar tributação, mesmo que transitoriamente (sobre ricos então, nem pensar!); é pecado criar estímulos; é heresia mobilizar investimentos do Estado; é, enfim, quase que escandalosa a ideia de fazer política econômica com alguma gota de ativismo governamental –e isso, por favor, não é  nova matriz econômica.

Devemos, então, segurar a respiração e esperar pela reforma da Previdência e depois pela reforma tributária e depois pela reforma fiscal… Até lá, não se sabe bem quando, vamos continuar culpando Janot, greve dos caminhoneiros e forças ocultas pelos nossos males, à espera que se materialize, enfim, o dom Sebastião liberal das expectativas, que nos salvará –se estivermos vivos.

Seria demais pedir um pouco de pragmatismo para enfrentar essa crise brutal à espera de fôlego e demanda? Sintomático que agora Guedes fale em liberar FGTS. Mas será que é esse o único plano para organizar a transição da sarjeta para o divã?

 

FOTO

 

Paulo Guedes – Adriano Machado/Reuters

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De comparação com liquidificador a falácias de Moro, defesa de armas é frágil https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2019/01/16/de-comparacao-com-liquidificador-a-falacias-de-moro-defesa-de-armas-e-fragil/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2019/01/16/de-comparacao-com-liquidificador-a-falacias-de-moro-defesa-de-armas-e-fragil/#respond Wed, 16 Jan 2019 16:12:10 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2019/01/bolso-assina-320x213.jpg https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=1025 Em defesa do decreto que amplia o acesso à posse de armas, dois ministros usaram argumentos risíveis. O primeiro foi o general Augusto Heleno, do GSI. Em seu tom professoral, afirmou, antes mesmo de a medida ser oficializada, que possuir armas se assemelha a possuir automóveis.

Já o chefe da Casa Civil, o criativo e falante Onyx Lorenzoni (até com Deus conversou para se acertar sobre caixa 2) melhorou a piada: ter uma arma em casa -comparou- é como ter um liquidificador. “A gente vê criança pequena botar o dedo dentro do liquidificador e ligar o liquidificador e perder o dedinho. Então, nós vamos proibir os liquidificadores?” -perguntou. E respondeu: “Não. É uma questão de educação, é uma questão de orientação. No caso da arma, é a mesma coisa.”

Menos propenso a tolices desse naipe,  mas igualmente empenhado em disseminar mistificações para justificar o decreto, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, lançou mão de argumentos falaciosos ao comentar o caso.

Segundo ele, as regras mais restritivas mostraram-se ineficazes, uma vez que desde sua entrada em vigor, há mais de uma década, o número de homicídios por arma de fogo aumentou. Ora, o fato de ter aumentado não significa que as regras não servem para nada. Seria preciso saber se sem elas a elevação teria sido maior, além de identificar outras possíveis causas. Apesar de ver rejeitadas algumas de suas sugestões para o decreto, Moro aproveitou entrevista à Globonews para jogar fumaça nas considerações científicas acerca da correlação entre armas e mortes, afirmando apenas que são “controvertidas”.

Sobre o atual estado da arte desse debate, convém ler, aqui, o esclarecedor artigo de Carlos Góes, do Instituto Mercado Popular, doutorando em Economia na Universidade da Califórnia em San Diego. Sem partidarismos e sem dramatizações a favor de um lado ou de outro, ele mostra que as verificações científicas mais recentes apontam para uma relação entre aumento do número de armas e aumento de homicídios -a despeito da existência de um fator dissuasivo.

O aspecto mais alarmante do decreto é a sinalização de que o governo tentará avançar na desregulamentação ou na simples revogação do Estatuto do Desarmamento, o que poderá levar ao agravamento do faroeste nacional. Em vez de transferir para o cidadão o enfrentamento armado de criminosos (e favorecer a indústria do setor, para qual o deputado Bolsonaro sempre trabalhou como uma espécie de lobista) faria melhor o governo em formular um programa sério para a área de segurança, com base em evidências científicas e não em truculência ideológica.   

 

 FOTO ACIMA: Jair Bolsonaro assina decreto para posse de armas, observado pelo chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, pelo vice-presidente Mourão e pelo ministro da Justiça, Sergio Moro – Alan Santos/Divulgação/PR

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Haddad cresce, dá olé em Bonner, mas tem que carregar aparelhão do PT https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/09/17/haddad-cresce-da-ole-em-bonner-mas-tem-que-carregar-aparelhao-do-pt/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/09/17/haddad-cresce-da-ole-em-bonner-mas-tem-que-carregar-aparelhao-do-pt/#respond Mon, 17 Sep 2018 20:09:30 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2018/09/Antônio-320x213.jpg https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=991 Na quinta-feira, o Datafolha dirá onde está Fernando Haddad transcorrido tempo suficiente para a divulgação de sua candidatura. Sabe-se que o ex-prefeito paulistano encostou em Ciro, que vinha numa ascendente, e imagina-se que já possa ter avançado mais.

Na semana passada, Haddad cresceu nas intenções de voto e também para cima de William Bonner, em entrevista ao Jornal Nacional.

O JN, como se sabe, optou por uma linha de questionamento dos candidatos na qual a coreografia da agressividade espalhafatosa substitui a serenidade, a firmeza e o equilíbrio jornalístico –caracteristicas que a Globo está sempre tentando, com muita dificuldade, colar em si mesma. Ao longo das diversas entrevistas, a dupla Bonner e Renata parecia entrar dopada no octógono para um combate de MMA.

A tentativa de compensar na marra o deficit de isenção que acompanha há décadas a imagem do JN (queira-se ou não) não funcionou. Os enfrentamentos raivosos não ajudaram muito a esclarecer os espectadores.

Nesse quadro, foi divertido, até mesmo para quem não endossa as posições do candidato, ver Haddad enquadrar e dar um olé em Bonner em algumas passagens, deixando-o descontrolado.

A dificuldade é que o ex-prefeito, por melhor que possa se sair nas argumentações, tem o ônus de carregar o PT, com seu aparelhão corrupto, dogmático e incompetente, nas costas. Intui-se que Haddad não concorde com muito da administração Dilma Rousseff e que não se alinhe com os  fundamentalistas e stalinistas da legenda.Mas não pode ou não quer falar.

Em sabatina à Folha, UOL e SBT na manhã desta segunda, ele deu piscadelas para o centro e para o mercado. Tímidas ainda para quem pretende liderar uma frente democrática contra Jair Bolsonaro no segundo turno. Mas deu a entender, por exemplo, que Marcio Pochmann, economista de sua campanha, não será necessariamente a referência de um eventual governo seu. 

Não são apenas direitistas e fascistas que rejeitam o PT e cobram a autocrítica que o partido se recusa a fazer. Muita gente de centro-esquerda que em outras circunstâncias seria Haddad está inclinada a votar em Ciro Gomes para não ratificar a polarização com o capitão e para não acatar a história da carochinha que o PT tenta emplacar.

Deslizamentos provavelmente vão ocorrer até o dia D –e movimentos bruscos de última hora não são improváveis.

Mas a sensação, por ora, é de que “Andrade”, o cara do Lula, vai subir e Bolsonaro dificilmente cederá seu lugar na janelinha para Alckmin, por mais que o voto útil possa ser um candidato importante nesta eleição.   

 

FOTO NO ALTO – Haddad no Insper, em São Paulo – Bruno Santos/Folhapress

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Atentado aumenta instabilidade com aprovação bizarra do “mercado” https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/09/06/atentado-aumenta-instabilidade-com-aprovacao-bizarra-do-mercado/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/09/06/atentado-aumenta-instabilidade-com-aprovacao-bizarra-do-mercado/#respond Thu, 06 Sep 2018 22:48:06 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2018/09/Bolsonaro-atentado.jpg https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=966  

O atentado contra o candidato Jair Bolsonaro acrescenta uma dose de violência e imprevisibilidade a um processo eleitoral já conturbado por suas características inusuais.

O fato de o responsável pelo atentado ter sido filiado ao PSOL e manifestar opiniões que podem ser identificadas como de esquerda nas redes sociais é um complicador a mais. Os apoiadores do candidato não vão aceitar facilmente a tese de que foi um fato isolado, uma ação solitária.

Em caso contrário –uma facada desferida contra um candidato de esquerda por um sujeito que se identificasse com Bolsonaro— haveria reações análogas.

O momento e o clima favorecem a pós-verdade .

Foi bom que os demais concorrentes tenham prontamente se manifestado contra a violência ocorrida em Juiz de Fora. Violência, diga-se, que de certa forma questiona teses defendidas por Bolsonaro, como a ampliação do porte de armas de fogo.

Um aspecto bizarro do episódio foi a reação do “mercado” que providenciou especulação com o dólar e a Bolsa na sequência do ocorrido. A moçada das mesas  deve estar tomando o remédio errado.

Aliás, em grande parte a instabilidade institucional que o país atravessa deriva de um cálculo equivocado de setores do capital aliados a oportunistas políticos (e também a pessoas de boa fé) que viram no impeachment uma perspectiva de reativar ganhos e mudar a  economia tomando um atalho  imprudente.

Quanto a isso, aliás, recomendo a leitura da coluna de Monica de Bolle na revista Época (aqui). A economista,  que foi favorável ao afastamento da presidente Dilma Rousseff, agora conclui: “Ao remover lentes ideológicas e partidárias, é impossível afirmar que o impeachment de Dilma não levou ao descrédito institucional que hoje contamina o país”.

Em junho, aqui no blog, eu conclamava a uma autocrítica do que passei a chamar ironicamente de “golpeachment”.

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Como explicar ao futuro que deixamos o Museu Nacional virar cinza? https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/09/02/como-explicar-ao-futuro-que-deixamos-o-museu-nacional-virar-cinza/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/09/02/como-explicar-ao-futuro-que-deixamos-o-museu-nacional-virar-cinza/#respond Mon, 03 Sep 2018 01:53:42 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2018/09/download-2-320x142.jpg https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=955 Não contive as lágrimas diante da imagem do Museu Nacional em chamas na tela da TV. Era a própria ideia latente de um Brasil iluminista e iluminado que ali se consumia sem que nada pudéssemos fazer.

Porque –tristeza e revolta– o que era para ter sido feito não foi.

A instituição, em que pese sua magnitude e importância, enfrentava restrições de recursos há anos num país em que autoridades se esbaldam em benesses pagas com o dinheiro público, mas não conseguem um trocado para cuidar do patrimônio histórico nacional. Um descaso criminoso com a cultura, a história, o passado –e também com o futuro.

Envergonho-me diante das novas gerações de brasileiros. Como explicar que deixamos virar cinza a mais antiga instituição museológica do pais, seu acervo enorme, de valor inestimável, e sua sede histórica –o palácio que foi residência da família real?

“Que tipo de gente era essa que cuidava deste país naquela época?”, um dia o futuro perguntará –se tivermos um que nos possa inquirir e, quem sabe, redimir.

A destruição do Museu Nacional, o Museu da Civilização Brasileira, como bem o classificou o arquiteto Washington Fajardo, assume uma dimensão simbólica funesta neste momento em que o Brasil parece esfarelar-se em nossas mãos.

Tempo de desintegração, tempo sombrio que nos deixa órfãos de um país sonhado.

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Debate da Band mostra que continuamos na velha e boa Sucupira https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/08/10/debate-da-band-mostra-que-continuamos-na-velha-e-boa-sucupira/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/08/10/debate-da-band-mostra-que-continuamos-na-velha-e-boa-sucupira/#respond Fri, 10 Aug 2018 16:03:06 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/download.jpg https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=920  

O debate de candidatos à Presidência da República da Band, realizado entre esta quinta e sexta (9 e 10/8) serviu para confirmar que continuamos na nossa velha e boa Sucupira. “O Bem Amado”, de Dias Gomes, não passa mais na TV, mas continua em cartaz na realidade política brasileira.

O tom farsesco já apareceu logo no início, quando candidatos se recusaram a responder a pergunta proposta para falar de suas biografias. E prosseguiu em outros tantos momentos, mostrando-se insuperável, porém, na bizarra e marcante performance do Cabo Daciolo.

O bombeiro do Patriotas, ligadão e altivo, foi eleito deputado federal em 2014 pelo PSOL, sigla da qual acabou expulso na sequência. Sempre evocando Deus, livro sagrado na mão e pegada dramática, o personagem nos fez lembrar mais uma vez –depois do desfile de patetas por ocasião do golpeachment– que Sucupira nos deixou, mas nós não deixamos Sucupira.

Mas não foisó ele. Outros, como o experimentado Álvaro Dias, com jeitão de Jerry Adriani bolado, também deram sua contribuição para a chanchada

Apesar de alguns momentos de debate efetivo e de declarações que serviram para medir melhor alguns candidatos, ficou a sensação de que tudo continua como antes. Na verdade pior, uma vez que o postulante do PT não pôde comparecer por estar na cadeia –o que mais uma vez nos leva à farsa social.

A estratégia petista de ficar de fora e criar um “debate” paralelo na internet pareceu-me um tanto pueril. Coisa de grêmio estudantil de Sucupira. Já é hora de o PT assumir seu candidato Fernando Haddad e se apresentar na campanha.

OK, foi apenas o começo. Mas não foi animador.

 

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Uma entrevista divertida com Antonio Dias, em Milão, 1990 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/08/08/uma-entrevista-divertida-com-antonio-dias-em-milao-1990/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/08/08/uma-entrevista-divertida-com-antonio-dias-em-milao-1990/#respond Wed, 08 Aug 2018 18:33:34 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/Antônio-2-320x213.jpg https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=898
Conheci Antonio Dias em 1990, em Milão, quando fui correspondente da Folha na Itália. Ele tinha 46 anos e eu 34 (bem, hoje posso dizer que éramos jovens!). Naquela época mantinha seu apartamento na rua Fratelli Bronzetti mas estava com um pé em Colônia, cidade que andava movimentada e atraía muitos artistas .
Ficamos amigos e continuamos nos encontrando ao longo desses anos. Sua morte e uma troca de mensagens com Lica Cecato, que foi sua mulher, me lembraram de uma entrevista que fizemos em seu apartamento milanês, em finais de 1990.
A parte mais legal foi um divertido “pinga-fogo” com perguntas e respostas curtas sobre arte e vida. Ele gostou quando viu. Reproduzo aqui.
PESSOAL E INTRANSFERÍVEL

Vício: “Fumar”
Comida: “Italiana e japonesa”
Restaurante: “Trattoria da Davide, no corso Garibaldi, em Milão”.
Costureiros: “Jeans, Armani e Lagerfeld”
Bebida: “Superalcoólicas”
Mineral com gás ou sem gás? “Água só de coco”
Rio ou São Paulo: “Os dois, com todas as diferenças”.
Milão ou Paris? “Milão e Colônia para trabalhar. Paris para passear”.
País a conhecer: “Toda a Ásia”
Rua: “Riachuelo, no Rio”.
Cor: “Cinza grafite e vermelho”
Collor: “O moço que eliminou as instituições culturais no Brasil”.
Ginástica: “Na cama”
Esporte: “Vide ginástica”
A pé ou de trem? “A pé. Adoro andar. Seria capaz de caminhar 24 horas sobre 24 horas, exceto, claro, durante as horas de ginástica”
Avião ou bicicleta? “Avião, sempre. Bicicleta, nunca”
Por que usa óculos: “Tenho tudo, astigmatismo, miopia, um pouco de vista cansada e glaucoma”

ARTE

Pincel ou brocha? “Brocha. E velha”
Começa a pintar de cima para baixo ou de baixo para cima? “Depende de onde estou”
Tela: “Belga, de linho, com preparação a gesso. Na falta, qualquer pano, depois de preparado”
Duchamp ou Picabia? “Os dois. Um diverte, outro faz pensar”
Picasso ou Mondrian? “Nenhum dos dois. Um diverte, outro faz pensar”
Salvador Dali: “Gosto, por incrível que pareça”
Crítico nota 10: No Brasil, Paulo Sérgio Duarte e Ronaldo Brito
Transvanguarda: “Um momento fraco”
Neo-conceitual: “Neo-déjà vu”
Performáticos: “Bom para ‘night’ de periferia”
Matéricos: “Consultar livros sobre o informal e o tachismo”
Vídeo: “Arte do futuro”
Cinema italiano: “Arte do passado”
Vernissage: “Estou aprendendo a evitar. É como ir à missa”
Bardi: “Bar de quem?”
Arte: “Imagina!”
Artista: Vivo, Jannins Kounelis. Morto, Joseph Beuys
Fotografia: Miguel Rio Branco
Galeria Alaska ou galeria Vitório Emanuele? “Não gosto muito de galerias”
Marchand nota dez: No Rio, Jean Bolghici; em São Paulo, Luisa Strina; em Badenweiler, Luise Krohn, que já fez 81 anos”
Marchand nota zero: “Giorgio Marconi, em Milão”
Verde: “Óxido de cobre ou folhagem”
Vermelho: “Naphthol Crimson”
Rosa: “Só Luxemburgo”
A melhor revista de arte: “Parkett, da Suíça”
A pior revista de arte: “Todas a pagamento. Serve também para o Brasil”
O colecionador: “Certamente não é o especulador”
Cores e sons: Gosto mais de música do que de artes plásticas”
Preto e Branco ou cores: “Sempre senti uma dimensão gráfica em meu trabalho, em termos de polarização, entre branco e preto. Ultimamente a cor está me chamando a atenção”

CANÇÃO DO EXÍLIO

Cinema: “O antigo Rian, em Copacabana”
Amigos de outros tempos: Roberto Magalhães, Jorge Mautner, José Agripino de Paula, José Resende, Wesley Duke Lee e Rogério Duarte
Por que saiu do Brasil? “Achava que era mais seguro”
Música brasileira: “Quase todo mundo. Cartola, Walter Franco, Itamar Assunção, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Hermeto Paschoal”
Marca de cigarro: Hollywood

PREFERÊNCIAS

Costura ou cultura? “Cultura”
Beatles ou Stones? “Os dois”
Mick Jagger ou Keith Richards? “Os dois juntos”
Secretária ou secretária eletrônica? “Secretária eletrônica”
Gabeira ou Cohn-Bendit? “Rude Dutchke”
O melhor do Brasil: “Só música”
O pior do Brasil: “Buracos nas ruas e assaltos”
Palavra escrita: “Os concretos e Octavio Paz”
Jorge Amado: “Vide entrevista dado no Brasil por Achille Bonito Oliva”
O chato: “Seria uma lista muito grande”
O burro: “Maior ainda”
Atriz predileta: Fanny Ardant
Ator predileto: Paulo César Pereio
Filme inesquecível: “’Le Chien Andalou’ (O Cão Andaluz), de Bunuel”
Diretor de cinema preferido: Glauber Rocha e Jean-Luc Godard
Jornal que lê quando está na Itália: “Depende, mas em geral são todos muito chatos”
Revistas semanais: “As internacionais. ‘Time’, ‘Newsweek’, ‘Nouvel Observateur’”
Lugar preferido em Milão: “Piazza Vetra, na região das colunas de São Lourenço. É um lugar belíssimo. Pena que tenha virado ponto de tráfico de drogas”
FOTOS:  2011 – Evelson de Freitas/Folhapress
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Em vez das sandálias, Neymar calça mocassim Gucci da humildade https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/07/30/em-vez-das-sandalias-neymar-calca-mocassim-gucci-da-humildade/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/07/30/em-vez-das-sandalias-neymar-calca-mocassim-gucci-da-humildade/#respond Mon, 30 Jul 2018 23:39:24 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/img_3780-320x213.jpg https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=888  

O mea-culpa publicitário de Neymar é um mico. A ideia de que uma autocrítica do craque deveria aparecer é óbvia. Depois do fiasco russo, sandálias da humildade pareciam encomendadas. Mas uma autocrítica precisa ao menos parecer verídica, convincente. E nada mais artificial do que uma autocrítica embalada por um vídeo comercial com todo o jeitão produzidão de patrocinador. Em vez das sandálias, Neymar deu a sensação de que calçou, na realidade, o mocassim Gucci da humildade.

O filminho é a cascata estetizada pela ideologia marqueteira da qual Neymar é pivô.

Faço minhas aqui as palavras de Marcus Panthera para um comentário que fiz numa rede social:

“Sobre mais um papelão do Neymar usando o patrocinador e um texto feito por um profissional para se ‘explicar’ eu só tenho a dizer o seguinte, corrigindo o vídeo:
– você não caiu, se jogou
– você não é um menino, tem 26 anos
– todo mundo passa dificuldades. Cada um com seus problemas
– ‘parça’ é o carai

Dá um tempo, Neymar.

Obrigado. 🙂

PS – Em se tratando de lâmina de barbear, foi muito bem sacada a expressão “de cara limpa” :p

 

FOTO  – Neymar depois da vitória contra a seleção da Costa Rica – Ricardo P./Código19/Folhapress

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Ciro Gomes perde a mão, Alckmin faz o jogo e PT pode disputar final https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/07/25/ciro-gomes-perde-a-mao-alckmin-faz-o-jogo-e-pt-pode-disputar-final/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/07/25/ciro-gomes-perde-a-mao-alckmin-faz-o-jogo-e-pt-pode-disputar-final/#respond Wed, 25 Jul 2018 17:32:56 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/15318692075b4e7817481b4_1531869207_3x2_lg-320x213.jpg https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=873  

Caetano Veloso argumenta nas redes sociais a favor de Ciro Gomes afirmando que o presidenciável do PDT seria o oposto de Temer e que por isso a turma do centrão acabou por se acertar com o tucano Geraldo Alckmin.

Pode ser, mas o fato é que Ciro tentou fechar com o famigerado blocão fisiológico que funciona como uma espécie de matéria escura –se bem que cada vez mais às claras– no sistema gravitacional do presidencialismo à brasileira.

Se tentou, é porque queria. Se não conseguiu, é porque mais uma vez tropeçou em seus conhecidos impulsos para cometer erros políticos. Atirando para tudo que é lado, o pedetista falou bobagens que estão encaminhando sua candidatura para o isolamento.

A impressão que se tem com a proximidade da definição do quadro é que Ciro, ao menos nessa primeira rodada, perdeu a mão; Alckmin jogou o jogo e o PT está acumulando cacife, ainda que de maneira tortuosa, com a onda em torno de Lula. O ex-presidente é o favorito das pesquisas e terá poder de transferir votos para Haddad, o provável curinga –que já deu uma entrevista (ironiquinha) para a Folha sobre o programa do partido, do qual é coordenador.

Como já havia comentado aqui, a repetição do padrão centro-esquerda x centro-direita das últimas eleições tem boas chances de se repetir. Bolsonaro? Veremos, mas a possibilidade de sua candidatura naufragar é considerável.

Caso Lula estivesse em condições de concorrer normalmente, o xadrez seria muito parecido com o das últimas eleições, embora nesse caso a chance de Bolsonaro ter sobrevida pudesse ser maior. Apostaria numa final do petista contra Alckmin. Sem ele, as coisas mudam, mas mesmo assim –e considerando as derrapadas de Ciro– não é improvável que a velha rivalidade PT x PSDB volte a dominar a cena.  Alckmin patina, mas terá enorme tempo de TV e uma rede de aliados ponderável.

Sim, Marina pode surpreender e ter um papel importante. E, sim, as campanhas on-line talvez tenham peso inédito. Mas isso ainda vamos ver.

FOTO ACIMA – Ciro Gomes durante encontro com empresários do setor de máquinas e equipamentos na ABIMAQ, em São Paulo – Diego Padgurschi/Folhapress

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Empresa cria super-herói Neymar; então já é hora de o craque largar a chupeta https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/06/26/empresa-cria-super-heroi-neymar-entao-ja-e-hora-de-o-craque-largar-a-chupeta/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/06/26/empresa-cria-super-heroi-neymar-entao-ja-e-hora-de-o-craque-largar-a-chupeta/#respond Tue, 26 Jun 2018 12:03:36 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/img_3780-320x213.jpg http://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=746 Uma empresa internacional está construindo um super-herói a partir da figura de Neymar Jr. para ser lançado nas redes sociais e em outras mídias, virtuais e físicas. A idéia é que os superpoderes do personagem sejam suas tatuagens, que ganharão vida.

Neymar é um superstar global que, segundo se contabiliza, ganha mais de R$ 3 milhões por semana só de salário. Méritos dele. É o mito que mita. E parece gostar muito disso. É midiático até o último fio de cabelo. Aproveitou o momento em que o mundo inteiro estaria de olho nele –a estreia da seleção na Copa– para aparecer com um corte de cabelo tipo vai causar. Alguns chegaram a considerar que o assunto seria da esfera privada.

À diferença do que vale para uma pessoa comum, é muito menor, no caso de um superstar, o círculo protegido pela privacidade. Ele vive no mundo da fama, da exposição pública, do marketing pessoal, do show-off.   Um choro no centro do picadeiro, transmitido ao vivo para o mundo, não pode ser considerado simplesmente um momento íntimo.

Foi muito fácil entender o que Neymar disse ao árbitro de Brasil x Costa Rica a certa altura do jogo, quando este, num gesto leve, tocou a mão no supercraque brasileiro: “don’t touch me, don’t touch me”. Engraçado, porque brasileiros em geral tocam os outros e são tocados. O tapinha no ombro e o desagradável tapinha na barriga… Clássicos. Muitos europeus e norte-americanos estranham bastante e não gostam. Essa de “don’t touch me”, ele deve aprendido por lá.

O fato é que cheio desses não me toques, o nosso craque maior está se tornando um chato. Joga muita bola, não se discute. Mas já está na hora de largar a chupeta, parar de fazer manha, de provocar os amiguinhos, de jogar o brinquedinho na parede e xingar a babá.

Quando Casagrande disse, com razão, que parte da mídia estava criando um monstro ao passar a mão na cabeça de Neymar, o pai ficou ofendido e atacou o comentarista e ex-ídolo do Corinthians. Fechado com uma turma de “parças”, que pega carona com o amigo famoso nas redes sociais, ele parece viver sob o império do ego. Quem o critica é “anti”.

Só que na Europa, Neymar há tempos é alvo de críticas de gente grade por atitudes constrangedoras e desnecessárias, como provocações bobocas em campo a colegas de profissão. Aos poucos seus gestos foram alimentando uma legião de “haters”.

Neste momento, faria um bem a todos e a ele mesmo se tratasse de se concentrar  em jogar futebol. Neymar, seu craque, ganha essa caneco para o Brasil! Não vamos querer que você seja um Federer, mas menos mimimi e mais fair play!

 

FOTO ACIMA – Neymar depois da vitória contra a seleção da Costa Rica – Ricardo P./Código19/Folhapress

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