Blog do MAG https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br Thu, 30 May 2019 23:56:15 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Treinado, vice-presidente vira Mourãozinho de Pelúcia, o fofo da hora https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2019/04/23/treinado-vice-presidente-vira-mouraozinho-de-pelucia-o-fofo-da-hora/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2019/04/23/treinado-vice-presidente-vira-mouraozinho-de-pelucia-o-fofo-da-hora/#respond Tue, 23 Apr 2019 18:27:36 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2019/01/Mourão-interino-320x213.jpg https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=1221 Vocês lembram do Lulinha de Pelúcia? Aquele boneco fofo do Lula que o artista Raul Mourão lançou ainda no primeiro mandato do petista? “Lula parece o candidato das criancinhas”, dizia Raul à época, referindo-se ao jeito de falar e à performance do petista, que antes de se eleger lançou, ele mesmo, o  “Lulinha paz e amor”.

Pois bem, parece que o artista carioca poderia aproveitar a ocasião e criar um boneco fofo inspirado em seu xará, o vice Hamilton Mourão.

O Mourãozinho de Pelúcia! Afinal, depois de um bom treinamento de mídia, antes de assumir a vice-Presidência, o general já não lembra mais aquele sujeito afastado do Comando Militar do Sul depois de sugerir à tropa a necessidade de um “despertar patriótico” contra o governo petista. Também já ficaram para trás as declarações contra o 13º salário –uma “mochila nas costas dos empresários”.

Beneficiado pelas lições do “media training”, mas também, em contraste, pelo despreparo, pela truculência ideológica e pela índole caótica de Bolsonaro, Mourão virou o fofão da hora para muitos democratas e até para progressistas de esquerda.

Escrevi aqui, na segunda (22), sobre a recente refrega (mais uma) envolvendo Olavo de Carvalho, os militares, os Bolsonaros e Mourão.

Disse que o vice, odiado e bombardeado pela família presidencial e pela seita olavista, dançava a dança do golpista esclarecido. Postei o comentário numa rede social e eis que pessoas queridas escreveram comentários favoráveis ao general –”simpatizo”, “gosto” e até um “adoro”.  Semana passada ouvi uma amiga ativista de causas sociais admitir: “estou torcendo para o Mourão”.

🙂

Conheço bem o tipo Mourão. Passei boa parte da minha infância e adolescência em Copacabana, no Posto 6. Posso vê-lo, bronzeadão, se exercitando na orla ou jogando vôlei com amigos nas areias da Princesinha do Mar. Ouço seus comentários, durante aquele churrasco, sobre a contribuição das três raças para a formação de nosso povo. E as considerações sobre o fato de termos tudo para sermos uma grande potência. É o brasileirão de direita, que todos, na verdade, conhecemos bem.

Acho que é por isso que é bem visto: se é para ter um governante de direita, que seja de uma direita que se conhece, previsível e conversável; não a direita do trem-fantasma do bolsonaro-olavismo, com seus freaks assustadores. Mas o que se espera? Um “autogolpe”, como o próprio Mourão uma vez sugeriu, em hipotético caso de ” anarquia”?

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Os 80 tiros e a volta dos porões https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2019/04/09/os-80-tiros-e-a-volta-dos-poroes/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2019/04/09/os-80-tiros-e-a-volta-dos-poroes/#respond Tue, 09 Apr 2019 13:48:03 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2019/04/15547218825cab2c5aab4c7_1554721882_3x2_md-320x213.jpg https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=1189 O homicídio do músico Evaldo Rosa dos Santos, no domingo, no Rio de Janeiro, não comporta tergiversações: trata-se de ação brutal perpetrada por militares do Exército Brasileiro que fere a Constituição e as normas mais elementares do Estado de Direito.

Impressiona a desenvoltura demonstrada pelo grupo fardado, que depois de descarregar 80 disparos –80!– num automóvel ocupado por pessoas pacíficas teria debochado da mulher da vítima, acompanhada do filho de 7 anos, do pai, também atingido, e de uma amiga.

O episódio é também alarmante porque escalões superiores tentaram  iludir a opinião pública com uma nota mentirosa, na qual se apresentava uma história da Carochinha sobre o ocorrido.

Não é um caso isolado a envolver o Exército, que já vinha sendo indevidamente acionado nos últimos anos para desempenhar papel de polícia num contexto de guerra aberta contra quadrilhas de traficantes do varejo das drogas.

A famigerada intervenção decretada por Michel Temer, no Rio, com o intuito, entre outros, de desviar a atenção de suas atividades criminosas (pelas quais finalmente deverá pagar), parece ter sido um marco nesse processo. Com a proteção de uma legislação que entrega à Justiça Militar o julgamento de militares acusados de matar civis, o arbítrio começou a pressionar as barragens.

Há relatos –de autoridades sérias que trabalham na defesa de direitos– de atos cometidos por militares que fazem lembrar os piores momentos de extremistas da caserna.

Muitos brasileiros orgulham-se de ter alçado ao Planalto um candidato identificado com os porões da ditadura. Bolsonaro nunca escondeu quem são seus heróis. É um apologista das armas e da tortura. E isso não é bravata.

O fato de que o “mau militar”, assim citado por Geisel, venha sendo monitorado no governo por um grupo de generais menos insensatos por caminhos tortos ecoa o jogo de atritos e cumplicidades entre as linhas militares de décadas atrás –os moderados, os “bolsões radicais porém sinceros”, os torturadores etc.

O crime contra Evaldo encena a volta dos porões nessa espécie de pós-democracia, à luz do dia, sem receio de punição, sem temor de transgredir regras legais e normas básicas de convívio civilizado. Se já não bastassem os desvios cometidos pelas franjas corruptas e incontroláveis das polícias, vemos uma instituição com a tradição e o prestígio do Exército ser exposta por incursões como essas, que semeiam a selvageria.

Sinal dos tempos, o espetáculo da estupidez merece o aplauso de uma horda de obcecados com a caça aos comunistas e com ataques contra homossexuais, pretos ou feministas. Gente que quer matar “bandido”.  E temos assistido a um perigoso recrudescimento da violência por parte do Estado, pessoas e grupos paralelos.

O que está em curso deveria nos preocupar. Enquanto setores da elite não desviam os olhos da agenda liberal, as bases da convivência social vão sendo corroídas pela escalada de uma direita das cavernas, de caninos aguçados, tacape e tablets nas mãos.

Nada garante que os erros serão reaproveitados numa imaginária “curva de aprendizado” e que as tentativas menos exitosas servirão para indicar os trajetos certos. Há sempre indivíduos, grupos e nações que simplesmente fracassam.

NA FOTO AO ALTO – O músico Evaldo Rosa dos Santos, morto por militares

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Como atriz de ‘Cantando na Chuva’, Moro mudo era melhor https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2019/04/02/como-atriz-de-cantando-na-chuva-moro-mudo-era-melhor/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2019/04/02/como-atriz-de-cantando-na-chuva-moro-mudo-era-melhor/#respond Tue, 02 Apr 2019 13:58:53 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2019/04/jean-hagen-wallpaper-320x213.jpg https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=1181 A recente história do ex-juiz e atual ministro da Justiça Sergio Moro faz lembrar de certa forma o “plot” de “Cantando na Chuva”.  Dirigido e coreografado por Gene Kelly e Stanley Donen, é o melhor musical da história de Hollywood e um dos  grandes filmes já rodados em qualquer gênero.

No enredo, Don Lockwood (Kelly) e Lina Lamont (Jean Hagen) são dois famosos atores do cinema mudo que o estúdio, para alimentar a idolatria, tenta vender como um par amoroso na vida real. Lockwood na verdade odeia sua partner e se apaixona por outra – Kathy (Debbie Reynolds) que Lina irá sabotar.

Mas não é isso que importa. Com o advento do cinema falado, na sequência do sucesso de “The Jazz Singer” (1927), a dupla vai estrear um filme sonoro. O problema é que a voz de Lina é fina e estridente, fadada ao fiasco nos novos tempos. Para evitar o naufrágio, ela é dublada por Kathy, mas o engodo acaba se revelando logo após a exitosa estreia do filme.

Moro também parecia melhor nos seus tempos de cinema mudo, quando falava menos do que é instado a fazer no ministério. Não pelo seu timbre vocal também peculiar, claro, mas sobretudo pelo modo como vem representando o novo papel.

Talvez empolgado pelo que lhe tenha parecido um “tsunami” bolsonarista, a passar por cima de tudo e de todos, cometeu a imprudência de aceitar um superministério do rival do candidato que ele mandou para a cadeia.

Não tardou para a euforia onipotente das primeiras semanas dar esbarrões no salão. Começou a entender melhor como a banda toca –tanto no Congresso, quanto no Palácio.

O paladino da Lava Jato facilitou o descarte da criminalização do Caixa 2, atuou como boneco de ventríloquo do presidente na defesa de medidas pró-armas e pró-letalidade policial, não teve força para manter Illona Szlabó como suplente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, sofreu reveses no STF e foi ridicularizado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

Por fim, apareceu em acabrunhante demonstração de tibieza no “New York Times” (29/3), recusando-se a dizer se os termos golpe e ditadura seriam corretos historicamente. Talvez lembrando-se de que o cinema mudo já não existe, optou por uma declaração acaciana ao diário americano: “O que realmente interessa é que nós recuperamos nossa democracia.” Irmanou-se ao núcleo ideológico regressivo e brucutu do governo. Surpresa?

Não se sabe o que o futuro reserva para os planos ambiciosos de Moro, mas ao menos por ora é difícil negar que seu tamanho como figura pública diminui.

FOTO AO ALTO – Lina Lamont (Jean Hagen) em “Cantando na Chuva”

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