Blog do MAG https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br Thu, 30 May 2019 23:56:15 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Economistas e ideólogos liberais devem explicações sobre fiasco do PIB https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2019/05/30/economistas-e-ideologos-liberais-devem-explicacoes-sobre-fiasco-do-pib/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2019/05/30/economistas-e-ideologos-liberais-devem-explicacoes-sobre-fiasco-do-pib/#respond Thu, 30 May 2019 21:45:21 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/Guedes-320x213.jpg https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=1237 O resultado do PIB do primeiro trimestre e a perspectiva de mais um ano de estagnação, a essa altura já contratada, cobra explicações aos economistas e ideólogos ditos liberais que apregoaram a rápida recuperação da economia brasileira após a deposição da presidente Dilma Rousseff. Estaríamos, então, no limiar de um espetáculo de reversão de expectativas, que levaria à expansão do PIB, ao encaminhamento do ajuste fiscal, com redução de despesas e iminente aprovação de uma reforma da Previdência.

Agora, alguns desses profetas do mercado falam pouco e evocam superstições: haveria alguma coisa anormal na economia brasileira, alguma aberração, um elemento invisível ou matéria escura que eles não sabem bem identificar. É como se uma circunstância metafísica misteriosa regesse a lógica econômica nesse considerável pedaço do sistema global.

Talvez os sacerdotes desse tipo escolar e fortemente ideológico de liberalismo que grassa no país devessem olhar para dois aspectos: o tipo de articulação política que promoveram (pegaram o primeiro cavalo oportunista que passou, caíram, e pegaram outro mais xucro) e a inexistência de uma estratégia pragmática de saída da estagnação. É mentira velha e surrada que empresários e investidores nos inundarão com um tsunami de investimentos tão logo aprove-se a reforma da Previdência.

Claro que se trata de medida necessária, dentro de parâmetros razoáveis, mas por si vai representar apenas um relativo alívio na avaliação do cenário futuro. Para sair do buraco em que nos metemos talvez fosse útil abandonar a ideia de que abdicar de uma política econômica ativa e não fazer nada (sim, em termos) seja a melhor solução. Lembremos que os EUA, o país do capital e da iniciativa privada, reagiram e saíram da crise de 2008 com massiva atuação governamental, por meio da injeção de recursos de proporções bíblicas. Passada a tormenta, retiraram os estímulos e a vida segue –aliás já muito bem desde o final do mandato de Obama.

O ponto aqui é o seguinte: não se vai sair de uma crise dessa dimensão apenas com terapias indicadas para o longo prazo. Façamos uma comparação, digamos, psiquiátrica.  Ainda que alguém acredite que a psicanálise seja a melhor opção terapêutica  para a busca do autoconhecimento e do equilíbrio emocional, não parece rcomendável levar diretamente ao divâ, na expectativa de cura, um psicopata em surto ou um alcoólatra em crise, na sarjeta. Melhor que essas pessoas passem antes por uma terapia de recuperação para que possam ficar em pé, caminhar e, enfim, estarem capacitadas minimamente a seguir prescrição mais duradoura.

No nosso debate econômico, entretanto (insisto, altamente ideologizado), não se admitem terapias de transição. É proibido, por exemplo, elevar tributação, mesmo que transitoriamente (sobre ricos então, nem pensar!); é pecado criar estímulos; é heresia mobilizar investimentos do Estado; é, enfim, quase que escandalosa a ideia de fazer política econômica com alguma gota de ativismo governamental –e isso, por favor, não é  nova matriz econômica.

Devemos, então, segurar a respiração e esperar pela reforma da Previdência e depois pela reforma tributária e depois pela reforma fiscal… Até lá, não se sabe bem quando, vamos continuar culpando Janot, greve dos caminhoneiros e forças ocultas pelos nossos males, à espera que se materialize, enfim, o dom Sebastião liberal das expectativas, que nos salvará –se estivermos vivos.

Seria demais pedir um pouco de pragmatismo para enfrentar essa crise brutal à espera de fôlego e demanda? Sintomático que agora Guedes fale em liberar FGTS. Mas será que é esse o único plano para organizar a transição da sarjeta para o divã?

 

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Paulo Guedes – Adriano Machado/Reuters

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Posts bizarros de Bolsonaro não são apenas cortina de fumaça https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2019/03/08/posts-bizarros-de-bolsonaro-nao-sao-apenas-cortina-de-fumaca/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2019/03/08/posts-bizarros-de-bolsonaro-nao-sao-apenas-cortina-de-fumaca/#respond Fri, 08 Mar 2019 03:40:27 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/Bolso-em-Itaipu-320x213.jpg https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=1124 A cada manifestação destrambelhada do presidente Jair Bolsonaro em discursos ou posts nas redes sociais surgem alertas de que o Mito estaria desviando a atenção dos incautos com temas destinados a criar uma “cortina de fumaça”.

Com a ajuda de seus golden boys, Bolsonaro lançaria provocações ultraconservadoras no território da chamada agenda de costumes para evitar a discussão ou esconder medidas relativas a questões políticas e econômicas –estas sim importantes.

Não há dúvida de que governantes procuram em determinados momentos distrair a plateia para deixar à sombra situações que desejariam acobertar. No entanto, basta acompanhar o noticiário para constatar que o presidente tem se expressado –mais do que deveria, aliás, para desespero de assessores– sobre reforma da Previdência e outros assuntos que os críticos da cortina de fumaça consideram mais sérios e negligenciados.

Não vejo um governo desdobrando-se para fugir de maneira apelativa da economia (área que o capitão assumidamente não entende) ou para atacar na surdina, como se não houvesse oposição e vigilância no Congresso e nos movimentos sociais. Tampouco parece ser uma estratégia maquiavélica urdida com maestria –mesmo porque são evidentes os erros e, em certos casos, o desgaste da imagem de Bolsonaro aos olhos de parte de seus apoiadores.

Na realidade me pergunto até que ponto não seria um pouco ao contrário. Certos setores da opinião pública passaram, nos últimos anos, a tratar a agenda econômica como prioridade absoluta. Tudo se desvaloriza diante da urgência de enxugar o estado e criar um ambiente “propício aos negócios”.

Sendo assim, é preciso assegurar que  a pauta das reformas funcione ela mesma como uma espécie de cortina de fumaça a minimizar ou silenciar o alarido alucinado do governo em outros ramos, como cultura, educação, orientação sexual, racismo e violência policial. Esses tópicos são vistos como um estorvo a prejudicar o objetivo principal. Deveriam ser evitados.

É sintomático, quanto a isso, que se convidem as pessoas a não reagir às manifestações nefastas do presidente, como se tratassem de questões menores forjadas para obliterar as maiores. Mas o que se considera pauta secundária do campo dos costumes é, na realidade, assunto relevante, que desempenha papel central na consolidação política do bolsonarismo –e também de seus correlatos populistas de ultradireita, mesmo em situações, como nos EUA, nas quais a economia vai bem.

Não se trata simplesmente de uma estratégia de negação ou ocultamento, mas, em sentido oposto, de uma explicitação de preocupações que antes viviam no limbo da relativa tolerância ou do conflito privado -pelo menos fora do que seria o campo presumível de atuação direta de um presidente da República (nisso, Bolsonaro, de maneira mais perigosa, lembra Jânio Quadros –e talvez termine, quem sabe, por repeti-lo também em outros aspectos).

Estamos assistindo nas intervenções personalizadas do presidente em redes sociais a um movimento nada democrático ou liberal para demarcar territórios de suspeição e levar o poder do estado à esfera da moralidade pessoal, num esforço de criminalizar opções comportamentais e justificar a repressão policialesca –em sintonia com o frenesi religioso-fascistoide emergente (o jornalista Bruno Torturra, a propósito, num de seus Boletins do Fim do Mundo, expõe argumentos interessantes em torno do caso “golden shower”).

Por fim, muito da fixação na atual agenda econômica deriva de uma onda economicista que cresceu em setores da mídia e das elites intelectuais em meio às conspirações do mundo empresarial e político que se seguiram à derrota da centro-direita em 2014. Criou-se a perspectiva de que se operaria um milagre das expectativas com o afastamento do PT e, posteriormente, com a aprovação de projetos como o teto de gastos públicos e a reforma trabalhista. O PIB cresceria, todos ficariam felizes e o resto seria o resto. Não foi o que aconteceu.

Apostam-se agora todas as fichas na fetichizada reforma da Previdência que, embora necessária, não vai retirar, por si, a economia da mediocridade. Enquanto isso, medidas outras, no campo tributário e dos estímulos, foram demonizadas e postas de lado.

Os profetas desse espetáculo frustrado do crescimento talvez pudessem (como se cobra, com razão, do PT) pensar numa salutar autocrítica. Os resultados até aqui são pífios –e parece  pouco culpar a greve dos caminhoneiros, as denúncias de Janot e a crise da Argentina pelo fiasco.

NA FOTO AO ALTO – Bolsonaro discursa em Itaipu – Alan Santos – 26.fev.2019/PR

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Semiparlamentarismo explode com pautas-bomba e Ponte para o Futuro vira túnel para o passado https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/07/12/semiparlamentarismo-explode-com-pautas-bomba-e-ponte-para-o-futuro-vira-tunel-para-o-passado/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/07/12/semiparlamentarismo-explode-com-pautas-bomba-e-ponte-para-o-futuro-vira-tunel-para-o-passado/#respond Thu, 12 Jul 2018 21:22:02 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/15314136765b4784ac831a2_1531413676_3x2_lg-320x213.jpg http://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=825 Visto por alguns como um arranjo engenhoso para os impasses políticos do país, o arremedo de semiparlamentarismo que teria se instalado após o afastamento da presidente Dilma Rousseff possuiria o vantajoso condão de controlar excessos do Executivo e ao mesmo tempo incorporar a agenda reformista que impulsionou Michel Temer em sua aventura conspiratória.

Nos termos do acordão que presidiu a virada de mesa iniciada em dezembro de 2015, o Congresso ganharia margem para tentar estancar a sangria da Lava Jato e aceitaria, em contrapartida, promover a pauta liberal do documento Ponte para o Futuro –empreendimento que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso apoiou, mas chamou, sem perder sua peculiar sagacidade, de “pinguela”.

A aprovação inicial de meia dúzia de reformas serviu para animar os entusiastas da empreitada, que passaram a minimizar os conhecidos traços do DNA de nossa maioria parlamentar, entre os quais o fisiologismo desenfreado, o oportunismo, a miséria moral, a demagogia e a inclinação populista de direita. Mesmo diante de manifestações deploráveis, como os aumentos em cascata concedidos por Temer logo no começo de sua gestão, acreditou-se que o “ soi-disant” semiparlamentarismo seria uma fórmula virtuosa.

Pois bem: não demorou muito para que o escorpião, como na parábola, acabasse por picar o sapo. Ao comprar da malta congressista sua permanência no cargo, Temer tornou-se um fantoche nas mãos do centrão e das bancadas empenhadas em lobbies diversos, no mais das vezes regressivos.

A possibilidade de que o populismo de direita triunfasse, sempre alta, materializou-se. O sistema improvisado, que serviria para ajudar o país a conter gastos, equilibrar contas e caminhar na direção de uma economia e de uma administração pública mais modernas e racionais, passou a fazer o contrário.

Sob os eflúvios do período eleitoral, com um presidente entregue às baratas, o semiparlamentarismo não aprovou a propalada reforma da Previdência, ampliou despesas e transformou-se no reinado do atraso e da irresponsabilidade.

Após uma sequência de concessões, que envolveu perdão de dívidas e benesses variadas para grupos de interesse, chegou-se ao fim da linha com a greve dos caminhoneiros. Fruto, entre outros motivos, da fragilidade do presidente e do devaneio mercadista imprudente da nova política de preços da Petrobras, a paralisação resultou em desfalque para a atividade econômica, os cofres públicos e o bolso do contribuinte.

Não bastassem os prejuízos, concedeu-se anistia aos grevistas mancomunados com empresas do setor e aprovou-se um inacreditável tabelamento do frete, em meio a pautas-bomba (sim, elas voltaram) que podem empurrar para 2019 despesas de cerca R$ 90 bilhões, segundo estimativa de reportagem desta Folha.

A ponte para o futuro virou túnel para o passado e o semiparlamentarismo parece ser o responsável pela engenharia.

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FOTO AO ALTO –  Eunício Oliveira (MDB-CE), presidente do Congresso, durante debate sobre a lei orçamentária – Pedro Ladeira/Folhapress

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É hora da autocrítica do golpeachment https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/06/12/e-hora-da-autocritica-do-golpeachment/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/06/12/e-hora-da-autocritica-do-golpeachment/#respond Tue, 12 Jun 2018 14:25:52 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/15268230-320x213.jpg http://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=695 O presidente Michel Temer atingiu o mais baixo nível de aprovação já registrado pelo Datafolha para ocupantes do cargo, suplantando seus próprios recordes negativos. Apenas 3% dizem que o governo é ótimo ou bom, o que é um vapor estatístico.

A economia brasileira vai caminhando, segundo analistas, para mais um ano de estagnação. O desemprego permanece em patamares elevadíssimos. O ajuste fiscal não foi feito. A propalada reforma da Previdência não saiu do papel. Tabelamentos de preços e outras relíquias populistas e intervencionistas voltaram à cena.

Temer foi alvo de duas denúncias da Procuradoria Geral da República por corrupção passiva e continua sendo investigado pela Polícia Federal, que já levantou sinais de desvios até em seus círculos domésticos. Alguns dos grandes amigos do presidente estão presos ou são atingidos por inquéritos e evidências de crimes.

Talvez imaginando-se com sete mil vidas, o ex-vice vangloriou-se em entrevista à TV por supostamente ter surpreendido o tabuleiro com uma  “jogada de mestre” ao decretar a intervenção federal militarizada na segurança do Rio –até aqui um tiro n’água.

Quando dos embates em torno do afastamento da presidente Dilma Roussef, diziam os apoiadores da movimentação que a retirada de cena da petista reeleita, com seu governo desastroso, daria lugar a um ministério “dream team” e a um subsequente choque positivo de credibilidade. As expectativas favoráveis entrariam em cena e a economia começaria a deslanchar.

Acabaria, aleluia, a gastança. Com a votação da  Previdência e uma rodada ambiciosa de concessões de infraestrutura para a iniciativa privada as contas públicas seriam salvas. Investidores começariam a disputar o Brasil a tapa.  O PIB cresceria 4% em 2018 e um candidato identificado com as reformas estaria a essa altura muito bem posicionado nas intenções de voto. O gigantão descortinaria, enfim, o portal de uma nova era liberal maravilha. Com o amparo tranquilizador das instituições, o Supremo e tudo.

É forçoso admitir que alguma coisa não deu certo.

Pergunto aos respeitáveis economistas e pensadores liberais, intelectuais e homens públicos de variadas matizes que viram na conspiração e num fantasmagórico governo Temer uma perspectiva promissora a ser apoiada: não está na hora de uma autocrítica do impeachment? Ou diria melhor, do golpeachment?

 

FOTO – Imagem da pintura “Mancha no Planalto” (2013), de Ciro Cozzolino. Ernesto Rodrigues/Folhapress/Acervo Paper Box Lab Institute

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Mercadismo pueril e naufrágio do temerismo alimentaram crise https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/05/28/mercadismo-pueril-e-naufragio-do-temerismo-alimentaram-crise/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/05/28/mercadismo-pueril-e-naufragio-do-temerismo-alimentaram-crise/#respond Mon, 28 May 2018 12:38:32 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/565151-970x600-1-320x213.jpg http://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=652  

Os lances de liberalismo escolar que se abateram sobre o país na sequência da deposição de Dilma Rousseff têm produzido algumas bobagens notáveis. Uma delas é a política adotada pela elogiada gestão de Pedro Parente para corrigir diariamente os preços de derivados de petróleo nas refinarias –prática que já foi para o brejo da pior maneira possível.

A ideia simplória de que a Petrobras é comparável a uma padaria que não pode segurar o preço do pão artificialmente senão quebra é uma pataquada que vem sendo usada por alguns economistas para justificar um mercadismo tão valentão quanto pueril, que pode ter consequências graves para o país.

A Petrobras não é uma padaria, é uma enorme empresa pública, controlada pela União, com posições monopolistas, cuja riqueza é, em última instância, um bem da nação –num país em que o transporte de carga rodoviário triunfou e adquiriu peso estratégico excessivo. A presunção de que os sócios minoritários têm que ganhar sempre, em todas as circunstâncias e a cada minuto é uma falácia.

Como observou Eduardo Giannetti da Fonseca, em entrevista à Folha, a política que foi adotada por Parente é  “uma maluquice”. Da mão pesada e intervencionista de Dilma Rousseff migramos para uma visão fundamentalista de mercado que taquigrafa e transmite diariamente para os consumidores a volatilidade da cotação internacional de uma commodity da importância vital do petróleo.

Abriu-se o flanco, com essa decisão, para a imprevisibilidade e para o nervosismo característico das turbulências transitórias num país em que os mercados, não raro e por diversos motivos, são mais inclinados à instabilidade e à rapinagem. No caso, ficou complicado fechar frete com tanto vai e vem.

Há maneiras sensatas de criar um colchão de estabilidade e previsibilidade. Isso pode ser feito até  mesmo no campo tributário, com a adoção de impostos sobre combustíveis que possam cair quando a cotação dispara e possam subir quando ela cai –de modo a não transferir de imediato variações bruscas para a sociedade.

O fato é que a demonstração juvenil de macheza mercadista na petroleira, aplaudida pela claque ideológica, revelou-se insustentável. Além da irresponsabilidade de caminhoneiros e de empresas de transporte, a aliança desse liberalismo infantiloide com a jequice política incompetente e impopular do temerismo tem grande parte da responsabilidade por essa crise, que fez a população de refém e deixou o governo de joelhos, sem alternativa senão recuar de maneira atabalhoada e vexatória.

POST SCRIPTUM

Depois de publicar o post cima, às 9h38, me ocorreu que seria bom esclarecer que não sou a favor de tabelamento do frete ou de qualquer outra coisa. Esperemos que a ideia de tabelar isso e aquilo não prospere. Defendo uma gestão que observe as regras de mercado mas tenha um mínimo de inteligência, responsabilidade e pragmatismo. Não dá, por principismo boboca, deixar que  a mão invisível passe toda hora em nosso traseiro.

FOTO – Caminhoneiros protestam na rodovia dos Bandeirantes, em São Paulo –  Marcos Bezerra / Futurapress / Folhapress

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Saída de Batman ajuda, mas Temer e economia atrapalham liga da direita https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/05/08/saida-de-batman-ajuda-mas-temer-e-economia-atrapalham-liga-da-direita/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/05/08/saida-de-batman-ajuda-mas-temer-e-economia-atrapalham-liga-da-direita/#respond Tue, 08 May 2018 18:59:40 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/15241650895ad8e9e1b0517_1524165089_3x2_lg-320x213.jpg http://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=603 A desistência de Joaquim Barbosa de se apresentar como candidato às eleições presidenciais era uma possibilidade levada em conta por muitos analistas políticos, que viam com ceticismo a movimentação em torno do lançamento do ex-ministro do Supremo.  Ainda que mais recentemente estivesse em alta a ideia de que Barbosa concorreria, por causa dos bons resultados em pesquisas de intenção de voto, o recuo não chega a ser uma grande surpresa.

Sem Barbosa, animam-se as demais candidaturas, que viam no Batman um potencial canalizador de votos da centro-esquerda e da centro-direita. Mais do que todos, parece animar-se o grupo do tucano Geraldo Alckmin, candidato que vem encontrando persistentes dificuldades para decolar –embora seja cedo para prognósticos mais definitivos, num quadro em que é relevante a parcela dos eleitores indefinidos

Alckmin, em tese, seria o candidato da liga da direita que melhor se sairia na corrida eleitoral, caso o pensamento econômico desejante que apoiou a deposição de Dilma Rousseff tivesse atingido seus objetivos.

Os planos iniciais da aliança da direita liberal com a patrimonialista era colocar a economia em rápido crescimento, por obra de um milagre das expectativas e de um acordão para que a malta congressista entregasse as medidas consideradas necessárias para animar o mercado –entre as quais brilhava a mudança da Previdência.

Imaginava-se que a essa altura o espetáculo da retomada estaria em cena e atrairia a simpatia do eleitorado para as candidaturas identificadas com a agenda liberal reformista.

Não deu muito certo, convenhamos. Em que pesem algumas reformas entregues pelo governo Temer, a tão almejada (e fetichizada) reforma previdenciária não saiu do papel e a economia segue patinando, com desemprego altíssimo, déficit público explosivo e muitas incertezas. Quanto ao governo, bate recordes de impopularidade e vê-se às voltas com a polícia e a Justiça.

Nesta semana, as expectativas de um crescimento expressivo em 2018 viram-se mais uma vez aplacadas por revisões para baixo nas estimativas do PIB.

Apesar de toda a encenação técnica, assistiu-se no passado recente a uma amplificação desejante de um programa econômico que, embora defensável em vários aspectos, não poderia dar certo sem que se levassem em conta as condições políticas para sua implantação. Revolução liberal com Temer, Jucá, Angorá, Geddel e companhia nunca me pareceu uma ideia muito brilhante.

Uma vez que os economistas liberais, assim como todos os demais economistas, nunca erram, não se vê autocrítica. Em vez disso, surgem especulações nebulosas do tipo “tem alguma coisa aí que não está funcionando e não sabemos o que é” –uma tentativa obscurantista de encontrar uma jabuticaba que venha a explicar o que na realidade foi um cálculo político equivocado estufado por “wishful thinking”.

Ainda assim, e apesar de todas as suas deficiências, a candidatura de centro-direita, ou de direita, representada por Geraldo Alckmin tem lá suas chances de prosperar. Bem como uma candidatura de centro-esquerda. O PSDB e o PT, apesar do desmanche, ainda são pólos importantes na política organizada e certamente terão peso no processo eleitoral.

Mas o fiasco político e moral de Temer e a decepcionante resposta da economia às medidas que se anunciavam salvadoras e de efeito relativamente rápido são fatores que podem contribuir para aventuras indesejadas –com ou sem Batman.

 

FOTO: O ministro aposentado do STF Joaquim Barbosa em evento em Brasília – Pedro Ladeira-19.abr.18/Folhapress

 

 

 

 

 

 

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Lava Jato não é santa, nem Lula é freira em prostíbulo https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/01/25/lava-jato-nao-e-santa-nem-lula-e-freira-em-prostibulo/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/01/25/lava-jato-nao-e-santa-nem-lula-e-freira-em-prostibulo/#respond Thu, 25 Jan 2018 04:31:39 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=277 Não é difícil considerar que a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha sido a consequência presumível de uma conspiração iniciada tão logo o senador (ainda senador, não?) Aécio Neves viu-se derrotado em sua cozinha mineira por Dilma Rousseff. Uma das mais medíocres personagens políticas que o Brasil já levou à Presidência da República, a petista foi  legitimamente eleita após uma campanha em que certamente mentiu (mas quem não?) ao prometer, sem poder cumprir, a continuidade das benesses que a maioria dos eleitores identificava como fruto do melhor ciclo petista.

Sua deposição foi provocada por supostos crimes contábeis, considerados bem mais graves pela articulação dominante do que a “armação” que o  atual presidente (“tem que manter isso, viu”) apontou nas duas denúncias por corrupção apresentadas pela PGR contra ele. Conjunto da obra por conjunto da obra, difícil perder historicamente para a turma que votou pelo impeachment.

Não há como contestar as inclinações político-ideológicas da Lava Jato –tampouco seus acertos.

Foi e é indefensável a decisão do ministro Gilmar Mendes (essa caricatura “bem preparada”, e por isso mesmo mais deplorável, do nosso fetiche bacharel-farsesco a serviço do “establishment”)  de aniquilar numa penada a cristalina prerrogativa constitucional de o Executivo designar um ministro (Lula para a Casa Civil) –e em rápida sequência do constrangedor e espetacular abuso constitucional cometido intencionalmente pelo juiz Sergio Moro ao divulgar um áudio da presidente da República.

Moro, santamente, pediu desculpas ao STF e ficou santamente por isso mesmo. Em qualquer país sério, seria pênalti passível de cartão vermelho.

Depois desse episódio, nada poderia ser recebido como surpresa em matéria de vamos retirar o PT da sala.

Posto isso,  o petismo  não melhora muito as coisas. O PT, lamento dizer, roubou como gente grande e se aliou com o pior que existe na política brasileira, como bem prova (nesse caso, prova irrefutável) a escolha, em duas eleições, de seu vice-presidente.

A esquerda brasileira perdeu o bonde da história e cegou-se com o poder. Vive no contexto ideológico de meados do século 20 e continua incapaz de fazer autocrítica por modesta que seja. Nada de novo nesse front.

A direita e a “mídia”, eis as grandes culpadas pelos erros e fracassos estrondosos cometidos pelo petismo e seus aliados de direita, fisiológicos, bíblicos e patrimonialistas.

Lula, aliás, já tinha dito em 2015 que  o PT precisava de uma revolução: perdera a utopia e só pensava em cargos e ganhar eleição. “Temos que definir se queremos salvar nossa pele, nossos cargos ou nosso projeto”, disse o líder há três anos. Ao que se vê, não salvaram nenhum dos três.

Grande parte do partido e de seus parceiros íntimos, como Sérgio Cabral (só para citar o corrupto ostentação brother de Lula, amigão de Copa e Olimpíada, nosso esportivo  Maluf à beira-mar), foi apanhada no exercício da mais deslavada corrupção (desculpe o udenismo, mas corrupção existe) contra o patrimônio público. O famoso desvio de dinheiro do povo. Bilhões. Declarados, aliás, por baixo, em balanço oficial da Petrobras. Para não falar do loteamento a serviço da rapinagem em outras estatais –que Lula, claro, não sabia.

– Ah, mas os tucanos não são corruptos também?

Bem, respondo: sim, ao que se observa, muitos –além do neto de Tancredo, já desmoralizado. Paulo Francis, aliás (waaaaal, I love this guy), denunciou a roubalheira na Petrobras durante o governo Fernando Henrique Cardoso, como se pode ver neste vídeo imperdível para quem não conhece essa história.

Mas, enfim, pergunto, a ideia não era acabar com isso?

– Ah, mas não dava, né? Tinha que manter a “governabilidade”…

Jura?

Lula não é inocente. Nem eu. Outros que mereciam condenação não serão jamais condenados? Certamente. Injustiça? Sim.

Nada disso, contudo, faz de Lula (e do PT) essa freira no prostíbulo.

Respeito muito suas lágrimas. E os fiéis, as crenças e as procissões.

Mas não tenho religião.

PS – Lamento também que esse veredito tenha contrariado as argumentações jurídicas de Reinaldo Azevedo, meu candidato a próximo ministro do STF.

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