Blog do MAG https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br Thu, 30 May 2019 23:56:15 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Tarso de Castro volta em filme que escorrega em chororô saudosista https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/05/17/tarso-de-castro-volta-em-filme-que-escorrega-em-chororo-saudosista/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/05/17/tarso-de-castro-volta-em-filme-que-escorrega-em-chororo-saudosista/#respond Thu, 17 May 2018 13:49:56 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/images.jpg http://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=615 Tarso de Castro era uma lenda do jornalismo quando cheguei à Redação da Folha em 1984 para trabalhar na Ilustrada, com Matinas Suzuki Jr., Leão Serva e uma equipe que reunia nomões da geração “Pasquim”, como Sérgio Augusto, Paulo Francis, Ruy Castro, além do próprio Tarso, e uma turma de jovens promissores.

Eu tinha 28 anos de idade, Tarso, 43. Na Folha, ele já havia criado e editado o suplemento semanal de cultura “Folhetim”, mas àquela altura assinava uma coluna na Ilustrada. Tinha uma sala e uma assistente, a jornalista Lilian Pacce, que depois se transformaria numa referência na área de moda.

Chegava ao jornal, sapecava um beijo na boca de nossa compenetrada secretária, dona Vicentina, falava coisas divertidas, parodiava trejeitos de bicha, saía para beber durante o fechamento e acabava por entregar, nem sempre pontualmente, seu texto – que precisava ser submetido à aprovação prévia do “publisher” da Folha, Octavio Frias de Oliveira. A ditadura dava sinais de esgotamento, mas ainda vivíamos sob um regime militar, comandado pelo general João Baptista Figueiredo.

Lembro-me que certa vez, responsável pela edição do caderno, eu não tinha recebido, apesar da hora avançada, o  ok para a publicação da coluna. Aflito com a situação, fui cobrar do Tarso. Ele entregou o texto e disse para mim (aquele foca carioca precocemente alçado a editor) que já estava aprovado.  “Pode descer,  o Frias leu, está tudo bem”. Só que não. Hahaha. Tarso se divertia com essas coisas.

Eu gostava daquele espírito rebelde – e  ele parecia simpatizar comigo. Pouco tempo depois de eu ter chegado, elogiou-me em uma de suas colunas por uma crítica de música popular. Fiquei contente, mas sabia que o elogio também era uma forma de alfinetar os críticos da Ilustrada dos quais discordava.

No próximo dia 24 estreia um filme sobre ele.   “A Vida Extraordinária de Tarso de Castro”, com direção de Leo Garcia e Zeca Brito, traz à tela o personagem boêmio, sedutor, divertido e trágico, que morreu de cirrose, em 1991, pouco antes de completar 50 anos. O documentário revisita o criador do “Pasquim” e de outras tantas publicações, em suas peripécias, que começam em Passo Fundo (RS), sua cidade natal.

Há muitos depoimentos e personagens importantes, que vão de colegas de imprensa, como Jaguar, José Trajano ou Luiz Carlos Maciel, a amigos da área cultural, como Paulo Cesar Pereio e Caetano Veloso – padrinho, aliás, de João Vicente, o filho, que também aparece numa tensa conversa com Roberto D’Ávila.

O lado chato é aquela nostalgia toda, aquele saudosismo dos tempos românticos do jornalismo, segundo o qual naquela época tudo era incrível, era de verdade, era genial,  ao contrário dessa porcaria de hoje.  Entram em cena a falta de senso crítico fantasiada de senso crítico e avaliações rasas, muitas vezes ressentidas, sobre a imprensa pós-Tarso. O auge do chororô é uma marcha constrangedora sobre a Folha cantada ao piano por Paulo Caruso, sem nenhum contraponto.

 

FOTO: Imagem de Tarso no filme. Divulgação.

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No embalo da intervenção, ‘Vampirão’ da Tuiuti desfila sem faixa. Censura? https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/02/18/no-embalo-da-intervencao-vampirao-da-tuiuti-desfila-sem-faixa-censura/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/02/18/no-embalo-da-intervencao-vampirao-da-tuiuti-desfila-sem-faixa-censura/#respond Sun, 18 Feb 2018 19:23:13 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/mag2-150x150.jpg http://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=363 Aproveitando o embalo da intervenção federal na área de segurança pública do Rio, o presidente Temer, ao que se suspeita, também teria decidido intervir numa alegoria da  Paraíso do Tuiuti, no Desfile das Campeãs. O personagem “Vampirão”, grande destaque da escola, apareceu na noite de sábado (17/2) sem a faixa presidencial.

Ao tentar apurar o que teria acontecido,  a imprensa esbarrou em evasivas. A faixa teria sido perdida ou… sei lá.

Mas o jornal “O Globo” diz que colheu informações no barracão da escola dando conta de que “emissários da Presidência da República” teriam pressionado a Liga das escolas de samba –até mesmo para evitar a entrada do personagem na avenida.

A confirmar-se essa versão temos um caso bisonho de desrespeito à liberdade de expressão –ou ao menos uma tentativa de censura. O carnaval 2018 foi marcado por manifestações políticas e o triunfo das escolas Beija-Flor e Tuiuti no Rio deu visibilidade ao espírito de protesto que fez parte da festa.

 

FOTOS – No alto, o personagem sem faixa; na segunda imagem, com faixa.. Cr[editos: Kelly Lima/ Folhapress e Glaucon Fernandes/Eleven

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Beija-Flor e Tuiuti preenchem lacuna de manifestações e dão recado https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/02/14/beija-flor-e-tuiuti-preencheram-lacuna-de-manifestacoes-e-deram-recado/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/02/14/beija-flor-e-tuiuti-preencheram-lacuna-de-manifestacoes-e-deram-recado/#respond Wed, 14 Feb 2018 20:03:21 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/f4226a739466b061900d3e47397e75e18b5794b7fe81b704d6b5ed7be79ffc6d_5a84873776dd3-1-150x150.jpg http://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=326 A consagração da Beija-Flor no desfile do Rio, seguida de perto pela Paraíso do Tuiuti, contempla o que foi a nota histórica do Carnaval 2018 – o protesto contra a deterioração política e social do país nos últimos anos. Qualquer decisão que alegasse “critérios técnicos” para dar a vitória a uma escola com enredo alheio ao clima de protesto que sacudiu a Sapucaí e muitas outras avenidas do Brasil seria uma traição burocrática e formalista ao espírito da festa.

Muita gente, além de petistas, preferiria a Tuiuti, que veio numa batida “Fora, Temer” mais evidente e definida, mas a Beija Flor parece ter expressado de maneira mais ampla e dolorida o mal estar que se apoderou da sociedade brasileira –a saturação com as monstruosidades da injustiça social, com o descaso dos políticos, com o desprezo pelos direitos, com a corrupção, com os preconceitos e com o cinismo dominante.

Se havia quem se queixasse da falta de protestos mais expressivos contra a situação que se instalou no país depois da deposição da presidente Dilma Rousseff, não há mais do que reclamar –ou do que se vangloriar. O Carnaval 2018 preencheu, a seu modo, essa lacuna. Deixará para a  história um registro significativo de seu tempo. Um tempo que talvez fosse melhor apenas esquecer, mas que terá de ser vivido e superado.

A avenida deu seu recado.

 

POST SCRIPTUM:

Depois que postei o texto acima e recebi comentários, resolvi mudar um trecho. Em vez de “Alguns, os petistas certamente, prefeririam a Tuiuti” (que estava no segundo parágrafo da primeira postagem) ficou “Muita gente, além de petistas, preferiria a Tuiuti… ”

FOTO

Carnaval Rio 2018 – Beija-flor – Fernando Grilli | Riotur 12.02.2018

]]> 0 Passei o domingo na onda ‘é proibido proibir’ do Baixo Augusta https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/02/05/passei-o-domingo-na-onda-e-proibido-proibir-do-baixo-augusta/ https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/2018/02/05/passei-o-domingo-na-onda-e-proibido-proibir-do-baixo-augusta/#respond Mon, 05 Feb 2018 23:08:45 +0000 https://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/c47b5b6ff87ddbd381c8f21d035c5c6c4ac285ea514247d0e2000c2bd27fa622_5a7773eac9bb7-150x150.jpg http://blogdomag.blogfolha.uol.com.br/?p=311  

Domingo (4/2) tomei coragem e fui ao desfile do Acadêmicos do Baixo Augusta. Coragem, digo, não pelo bloco, que sempre achei muito simpático, mas pela ideia de voltar a um desfile depois de tantos carnavais bem vividos e outros (nos últimos anos) de bendita abstinência.

A concentração estava marcada para as 14h na Consolação perto da esquina com a Paulista. Soube na véspera que havia  (não sei como não tinha pensado nisso antes) um esquema de pulseirinha, que permite à pessoa contemplada subir num dos carros de som ou ficar no asfalto do lado de dentro do cercadinho de corda que  garante a evolução do cortejo motorizado. Graças à generosidade de uma amiga  consegui descolar a minha na manhã do domingo.

E lá fui, de metrô, enfrentar a parada. O metrô, aliás, é um dos artífices dessa nova cena do carnaval de rua paulistano –embora algumas linhas e estações, naturalmente, superlotem e se tornem  inviáveis.

O esquema de ir tipo VIP num dos quatro caminhões do bloco teria em tese duas vantagens: chope liberado, oferecido por um patrocinador, e banheiro a bordo. Bem, um chopinho de graça não dói –embora não seja minha bebida predileta. Mas vai bem com carnaval, domingo, chuva e suor.

Já o banheiro, aí sim. Um privilégio, praticamente um auxílio-moradia para o candidato a folião. Só que quando o caminhão lotou e a nave partiu, a fila foi se avolumando e as condições sanitárias declinando ao ponto de melhor esquecer.

Decidi então descer da carruagem e ir para o asfalto.

O desfile foi divertido e impressionante. A massa na região, segundo anunciou-se, chegou a 1 milhão de pessoas. Nunca tinha visto tanta gente junta nas ruas de São Paulo. E o clima, até onde pude acompanhar –do alto ou no asfalto, fora do cercadinho– era alegre, sem corre-corre e sem sustos no quesito violência.

O Acadêmicos do Baixo Augusta é um bloco que tem uma onda “progressista”, como sempre insiste o diretor da companhia, Alê Youssef –que já entrevistei aqui no Blog. Foi criado por gente do meio cultural, solta em comportamento, com inclinações de esquerda transante.

O tema do desfile, como se sabe, era “É Proibido Proibir”, em alusão ao cinquentenário do Maio de 68, da canção de Caetano Veloso e de outros acontecimentos marcantes daquele ano sem fim. O pessoal do Satyros, que foi num carro próprio, fez performance com moças de seios de fora; artistas cantaram; alguns e algumas foram para o asfalto; e muitas garotas usaram um carimbinho na pele lembrando aos marmanjos sem noção que “não é não!”.

Vejo alguns amigos de redes sociais zoando o Baixo Augusta e sua linha (err…) “ativista”. Tudo bem. É sempre bom ter gente para divergir, ironizar e quebrar consensos. Mas o desfile foi bom, sem chateação. Tocou de Raul e Rita a axé e samba-enredo.

Cheguei a São Paulo, vindo do Rio, em fevereiro de 1984, pouco antes do Carnaval. O desfile das escolas, que me pareciam muito chinfrins perto das cariocas (e eram mesmo, ainda mais do que hoje), acontecia na Avenida Tiradentes. Blocos, se havia, eram raros. Um ou outro baile pré-carnavalesco. As ruas ficavam praticamente desertas. Mal se ouvia um batuque ali na esquina.A galera ia para a Bahia ou para o Rio.

Entendo que o carnaval de rua possa ser um problema. Muita gente reclama do barulho, da bagunça, da sujeira etc. Quem mora perto tem bons motivos para bode. No Rio, as queixas são comuns também. Assiste-se a uma proliferação incontrolável de blocos, bloquinhos e blocões. Por isso, há quem queira repetir o confinamento das escolas aos Sambódromos, criando uma espécie de blocódromo.

Vai na mesma linha de promover a Virada Cultural em algum Viródromo, como queria o prefeito João Dória, que pretendia concentrar as atrações no autódromo de Interlagos (o alcaide tem uma fixação em pistas para automóveis ou é só impressão?).  Mas a  ideia dos blocos e da Virada, pergunto, não seria justamente promover uma apropriação lúdica e massiva da cidade?

O Baixo Augusta, criado em 2009, sempre teve essa linha e sempre foi amigo da diversidade. Em 1984, aliás,não existiam o nome e o bairro. A Augusta, ali para o lado da cidade, tinha se transformado, com o perdão da palavra, num puteiro (com neóns cool, ok). Hoje, Baixo Augusta é uma marca da boemia, da diversão, do turismo –e cada vez mais também da gentrificação– de um pedaço significativo da cidade.

É notável o processo associativo que se instalou em São Paulo (e também em outras cidades) nos últimos dez ou 15 anos com o objetivo de recobrar a escala humana e dar ao espaço urbano outras formas de uso que não a circulação de gente trancada em carros ou espremida em ônibus.

Há problemas? Sim, sem dúvida. Mas prefiro ver a Consolação tomada pela massa num domingo de pré-Carnaval do que as vias desertas do velho túmulo do samba.

FOTO NO ALTO: SAO PAULO, SP, BRASIL, 04-02-2018: Integrantes do grupo de teatro Satyros, durante performance no bloco Acadêmicos do Baixo Augusta, na rua da Consolação, em São Paulo. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, COTIDIANO)

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