Haddad cresce, dá olé em Bonner, mas tem que carregar aparelhão do PT

Marcos Augusto Gonçalves

Na quinta-feira, o Datafolha dirá onde está Fernando Haddad transcorrido tempo suficiente para a divulgação de sua candidatura. Sabe-se que o ex-prefeito paulistano encostou em Ciro, que vinha numa ascendente, e imagina-se que já possa ter avançado mais.

Na semana passada, Haddad cresceu nas intenções de voto e também para cima de William Bonner, em entrevista ao Jornal Nacional.

O JN, como se sabe, optou por uma linha de questionamento dos candidatos na qual a coreografia da agressividade espalhafatosa substitui a serenidade, a firmeza e o equilíbrio jornalístico –caracteristicas que a Globo está sempre tentando, com muita dificuldade, colar em si mesma. Ao longo das diversas entrevistas, a dupla Bonner e Renata parecia entrar dopada no octógono para um combate de MMA.

A tentativa de compensar na marra o deficit de isenção que acompanha há décadas a imagem do JN (queira-se ou não) não funcionou. Os enfrentamentos raivosos não ajudaram muito a esclarecer os espectadores.

Nesse quadro, foi divertido, até mesmo para quem não endossa as posições do candidato, ver Haddad enquadrar e dar um olé em Bonner em algumas passagens, deixando-o descontrolado.

A dificuldade é que o ex-prefeito, por melhor que possa se sair nas argumentações, tem o ônus de carregar o PT, com seu aparelhão corrupto, dogmático e incompetente, nas costas. Intui-se que Haddad não concorde com muito da administração Dilma Rousseff e que não se alinhe com os  fundamentalistas e stalinistas da legenda.Mas não pode ou não quer falar.

Em sabatina à Folha, UOL e SBT na manhã desta segunda, ele deu piscadelas para o centro e para o mercado. Tímidas ainda para quem pretende liderar uma frente democrática contra Jair Bolsonaro no segundo turno. Mas deu a entender, por exemplo, que Marcio Pochmann, economista de sua campanha, não será necessariamente a referência de um eventual governo seu. 

Não são apenas direitistas e fascistas que rejeitam o PT e cobram a autocrítica que o partido se recusa a fazer. Muita gente de centro-esquerda que em outras circunstâncias seria Haddad está inclinada a votar em Ciro Gomes para não ratificar a polarização com o capitão e para não acatar a história da carochinha que o PT tenta emplacar.

Deslizamentos provavelmente vão ocorrer até o dia D –e movimentos bruscos de última hora não são improváveis.

Mas a sensação, por ora, é de que “Andrade”, o cara do Lula, vai subir e Bolsonaro dificilmente cederá seu lugar na janelinha para Alckmin, por mais que o voto útil possa ser um candidato importante nesta eleição.   

 

FOTO NO ALTO – Haddad no Insper, em São Paulo – Bruno Santos/Folhapress