Criador de movimento de renovação se lança ao Senado pela Rede em São Paulo

Marcos Augusto Gonçalves

Em dezembro do ano passado entrevistei Pedro Henrique de Cristo, 34, para a Folha. Fundador e presidente do Instituto Brasil 21, um dos movimentos de renovação que andaram surgindo em meio à crise dos últimos anos, ele se lança agora numa aventura inédita, como candidato a senador por São Paulo pela Rede Sustentabilidade.

Sua história começa na Paraíba, estado natal, passa por estudos na Inglaterra e na universidade Harvard, nos EUA, desembarca na favela do Vidigal, no Rio, para um projeto inovador, e chega à cidade de São Paulo, onde passou a morar desde 2016, depois de ter sido ameaçado pelo poder paralelo carioca.

Em Harvard, onde se matriculou com bolsa integral das fundações Lemann e Estudar, dedicou-se a pesquisas interdisciplinares que procuravam unir o desenho de políticas públicas ao de espaços públicos e ao uso de tecnologia para criar redes comunitárias.

Com 2% das intenções de voto na  mais recente pesquisa Datafolha, ele falou ao blog sobre os movimentos de renovação, o cenário político e sua candidatura.

 

As expectativas dos chamados movimentos de renovação política para as eleições deste ano parecem ter ficado aquém do esperado. Além da sua candidatura, como você está vendo a participação desses movimentos na eleição? 

Os movimentos de renovação são essenciais para a transformação política do Brasil. Dentro do contexto atual é o único caminho. Por isso, me juntei a outras pessoas para iniciar esse movimento de mudança, fundando o Brasil 21. É verdade que esta tem sido uma batalha árdua para os movimentos, mas nossas vitórias existem.

Temos candidaturas competitivas nas proporcionais em basicamente todos os movimentos e a minha ao senado é a primeira independente do Brasil. Isso foi possível graças a uma resolução do estatuto da Rede Sustentabilidade, de 2017, que permite candidaturas cívicas, ou seja, independentes. Eram cinco critérios para efetivar a coligação do Brasil 21 com a Rede, um verdadeiro processo seletivo: ser ficha limpa, o curriculo, o manifesto do Brasil 21, apoio oficial do movimento à candidatura de Marina Silva e o reconhecimento da minha liderança em termos éticos, de competência e representatividade da sociedade civil, por pelo menos três entidades. Fomos reconhecidos por quatro –Movimento do Sem Teto do Centro, Humanitas 360, Etos Sustentável e Arq.Futuro.

Qual o seu histórico com a Rede? 

Conheço a Marina Silva desde 2010 e a apoiei na parte tecnológica na primeira metade da sua campanha presidencial, em 2014. Ela acompanha e participa do meu trabalho há 8 anos. Nunca havia pensado em me filiar a qualquer partido. Meu desejo era transformar a política por meio da Ágora Digital, projeto de democracia participativa desenvolvido no Centro de São Paulo, no Vidigal no Rio, e, mais recentemente, em Valparaíso, no Chile. A escolha do meu nome como candidato ao Senado é resultado do trabalho do movimento Brasil21. Representamos a sociedade civil na disputa pelo Senado de São Paulo. Foi uma vitória conseguir a vaga da Rede ao Senado, não sendo originalmente do partido. Agora vamos trabalhar para vencer a eleição e fazer a mudança a que temos nos dedicado tanto.

A Rede terá pouquíssimo tempo de TV e recursos limitados. Como você vai lidar com essa realidade? Você tem investidores que te apoiam?

Sim, a Rede não terá muito tempo de TV. Nós abrimos mão do fundo partidário, mas transformamos esse desafio em oportunidade. Contamos com apoiadores de diferentes classes sociais, do empresariado a lideranças comunitárias. Alguns apoiam com dinheiro, outros com trabalho e conhecimento. A ideia é baixo custo com alta eficácia. Nossa comunicação com o eleitor será por meio de redes sociais e da ação em territórios.

Quem são suas principais articulações em São Paulo? E bandeiras?

Trabalhamos com os movimentos sociais e instituições ligadas ao urbanismo, educação e inovação. Entre nossas principais bandeiras estão a geração de emprego e renda, com foco na melhoria do ambiente de negócios no Estado, criação de linhas de crédito para pequenos e médios empreendedores, os que mais empregam, e inovação. Outra prioridade é a educação voltada para primeira infância, dando oportunidades iguais para todas as crianças e apoiando a volta das mães ao mercado de trabalho. Vamos adaptar o modelo chileno do projeto Cresce Contigo, que integra saúde, educação e assistência social. Outro caminho fundamental para a transformação é a internet pública de alta velocidade para todos.

Queremos que São Paulo seja o primeiro estado brasileiro com 100% de internet gratuita, consolidando-o como um pólo de inovação e gerando ganhos de produtividade muito superiores ao custo dessa política pública. Essas propostas aliadas a um urbanismo de qualidade são capazes de gerar cidades mais seguras, com melhor mobilidade, saneamento, espaços públicos inclusivos e verdes e com maior capacidade de inovação.

Você vai competir com nomes tradicionais, como Eduardo Suplicy, do PT. Acredita que o eleitor quer novidade para o Senado? Como enfrentar essa situação? 

Certamente o eleitor quer novidades nesta eleição. Está mais do que na hora dos políticos atuais abrirem espaço para novas gerações mais preparadas para lidar com os desafios de São Paulo e do Brasil no século 21. A eleição para o Senado é a grande oportunidade para nós, cidadãos, começarmos a tomar a nossa democracia de volta, há décadas nas mãos dos cartéis políticos que monopolizam o poder. Precisamos democratizar nossa democracia e não podemos esperar mais.

Quais os principais erros do PT e das esquerdas nos últimos anos?

O principal erro foi manter o mesmo modelo de governabilidade para continuarr no poder, esquecendo dos anos de luta por um país mais democrático e justo. Todos os partidos no Brasil fizeram a mesma coisa e é por isso que não formamos novas lideranças políticas.

Você acredita que Bolsonaro chegue ao segundo turno?

Esta eleição está muito pulverizada, o que aumenta o risco de termos Bolsonaro no segundo turno. Apenas Lula, Marina e ele têm um eleitorado que independe dos seus respectivos partidos. Precisamos despertar nas pessoas a esperança de que existe uma outra maneira de fazer política. O surgimento dos movimentos de renovação prova que isso é possível. 

FOTO NO ALTO – Pedro Henriue de Cristo – Zanone Fraissat/Folhapress