Beija-Flor e Tuiuti preenchem lacuna de manifestações e dão recado
A consagração da Beija-Flor no desfile do Rio, seguida de perto pela Paraíso do Tuiuti, contempla o que foi a nota histórica do Carnaval 2018 – o protesto contra a deterioração política e social do país nos últimos anos. Qualquer decisão que alegasse “critérios técnicos” para dar a vitória a uma escola com enredo alheio ao clima de protesto que sacudiu a Sapucaí e muitas outras avenidas do Brasil seria uma traição burocrática e formalista ao espírito da festa.
Muita gente, além de petistas, preferiria a Tuiuti, que veio numa batida “Fora, Temer” mais evidente e definida, mas a Beija Flor parece ter expressado de maneira mais ampla e dolorida o mal estar que se apoderou da sociedade brasileira –a saturação com as monstruosidades da injustiça social, com o descaso dos políticos, com o desprezo pelos direitos, com a corrupção, com os preconceitos e com o cinismo dominante.
Se havia quem se queixasse da falta de protestos mais expressivos contra a situação que se instalou no país depois da deposição da presidente Dilma Rousseff, não há mais do que reclamar –ou do que se vangloriar. O Carnaval 2018 preencheu, a seu modo, essa lacuna. Deixará para a história um registro significativo de seu tempo. Um tempo que talvez fosse melhor apenas esquecer, mas que terá de ser vivido e superado.
A avenida deu seu recado.
POST SCRIPTUM:
Depois que postei o texto acima e recebi comentários, resolvi mudar um trecho. Em vez de “Alguns, os petistas certamente, prefeririam a Tuiuti” (que estava no segundo parágrafo da primeira postagem) ficou “Muita gente, além de petistas, preferiria a Tuiuti… ”
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Carnaval Rio 2018 – Beija-flor – Fernando Grilli | Riotur 12.02.2018