Cadeia para quem precisa de cadeia

Marcos Augusto Gonçalves

Admita-se que a prisão de figurões da política e do meio empresarial, em decorrência da Lava Jato e congêneres, tenha lá –apesar das distorções seletivas– um efeito pedagógico (além de catártico) num país onde a impunidade é regra para certo tipo de cidadão privilegiado.

Afora isso, não faz muito sentido, convenhamos, encarcerar Paulo Maluf, 86. É preciso caminhar, como ressalta o antropólogo Luiz Eduardo Soares em post anterior, para uma política mais racional de aprisionamento –não para proteger os beneficiados de sempre, mas para por fim à escalada de prisões por delitos que poderiam ser punidos com outro tipo de pena. E para retirar da zona de arbítrio do Estado toda uma massa de indivíduos privados de acesso a direitos, que mofam nas prisões, muitas vezes de maneira irregular, por terem, por exemplo, vendido maconha ou papelotes de cocaína no varejo.

A política atual serve sobretudo para entulhar e degradar presídios (já temos a segunda população carcerária do mundo) e para formar soldados de facções criminosas. Enquanto isso, os índices de criminalidade escalam. Cadeia para quem precisa de cadeia.